• Direto no Ponto

Inflação recua em janeiro, mas preços de alimentos resistem

Posted by: | Posted on: fevereiro 12, 2025

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, desacelerou para 0,16% em janeiro, ante uma alta de 0,52% em dezembro de 2024. Segundo os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse é o menor resultado para o primeiro mês do ano desde 1994, quando iniciou o Plano Real.

Com o desempenho do primeiro mês do ano, o acumulado em 12 meses recuou para 4,56%. A desaceleração foi motivada pelo desconto no valor das contas de luz. Entretanto, o resultado foi novamente impactado pelo preço dos alimentos. Dos nove grupos apurados, apenas três registraram recuo no último mês.

Os preços da energia elétrica residencial tiveram queda de 14,21% e exerceram o maior impacto negativo sobre o índice. A retração decorreu da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas em janeiro.

Segundo o economista da XP, Alexandre Maluf, o indicador geral veio abaixo de suas expectativas, que tinham projeção de alta de 0,20%. Apesar disso, ele destaca que o alívio deve ser momentâneo. “É uma queda bastante relevante. Se não fosse isso (a queda dos preços da energia), o IPCA estaria mais perto de 0,80%”, afirmou.

“Lembrando que esse desconto, na verdade, foi agora implementado em janeiro, mas vai haver a volta correspondente em fevereiro, de modo que nós, o mercado, projetamos algo como 1,4% de inflação em fevereiro”, destacou Maluf.

A maior variação para mais veio do grupo dos transportes, com uma alta de 1,30%, impulsionada pelas passagens aéreas, que subiram 10%, e pelos ônibus urbanos, com variação de 3,84%, devido a reajustes nas tarifas em 7 das 16 áreas pesquisadas.

O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, registrou seu quinto aumento consecutivo, de 0,96%. Nesse grupo, a alimentação no domicílio subiu 1,07%, influenciado pelas altas da cenoura, do tomate e, novamente, do café moído. As carnes, que vinham com sucessivas altas, cresceram menos, encerrando janeiro com elevação de 0,36%. Alguns cortes, como patinho registraram queda no preço.

Já a alimentação fora do domicílio desacelerou de 1,19% em dezembro para 0,67% em janeiro.

A alta dos alimentos tem incomodado o governo, que avalia medidas que possam contribuir para a redução dos preços. O resultado da inflação de janeiro ainda reflete pressões persistentes em setores essenciais, como transportes e alimentação, conforme ressaltou João Kepler, CEO da Equity Fund Group.

“A elevação dos preços nesses segmentos mantém o custo de vida elevado e reforça a necessidade de atenção à condução da política monetária. Embora a inflação venha desacelerando em comparação com períodos anteriores, sua trajetória ainda demanda cautela por parte do Banco Central”, disse.

De acordo com Kepler, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nas próximas reuniões será crucial para equilibrar o controle inflacionário com a retomada do crescimento econômico, garantindo um ambiente mais estável. “Não adianta o governo dizer para comprar alimentos mais baratos, já que o café faz parte da cesta básica”, avaliou.

Economistas avaliam ainda que as tarifas sobre importações impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, podem contribuir para pressões inflacionárias e tarifas recíprocas podem contribuir ainda mais nesse cenário. “Os núcleos de inflação seguem elevados, com destaque para serviços e indústria, reforçando a pressão sobre o Banco Central. Diante desse cenário, é provável que o Copom mantenha uma postura firme na política monetária, podendo até elevar a Selic (taxa básica de juros) novamente para conter os riscos inflacionários e alinhar as expectativas ao centro da meta”, ponderou André Matos, CEO da MA7 Negócios.

ECO-Inflação


Inflação recua para 0,16% em janeiro, menor taxa para o mês desde o Plano Real

Posted by: | Posted on: fevereiro 11, 2025

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, desacelerou para 0,16% em janeiro, ante uma alta de 0,52% em dezembro de 2024. Segundo os dados, divulgados nesta terça-feira (11/2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trata-se do menor resultado para o primeiro mês do ano desde 1994, quando teve início o Plano Real.

No ano passado, o índice de preços abriu o ano em 0,42%. Com isso, o acumulado em 12 meses recuou para 4,56%. O alívio foi motivado pelo desconto no valor das contas de luz, entretanto, o resultado foi novamente impactado pelo preço dos alimentos. Dos nove grupos apurados, apenas três registraram recuo no último mês.

Os preços da energia elétrica residencial tiveram queda de 14,21% e exerceram o maior impacto negativo sobre o índice. A retração foi decorrência da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas em janeiro.

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O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, registrou seu quinto aumento consecutivo, de 0,96%. Nesse grupo, a alimentação no domicílio subiu 1,07%, influenciada pelas altas da cenoura, do tomate e, novamente, do café moído. Já a alimentação fora do domicílio desacelerou de 1,19% em dezembro para 0,67% em janeiro.

Os preços dos transportes também registraram impacto significativo sobre o indicador, com alta de 1,30%, por influência das altas nas passagens aéreas (10,42%) e no ônibus urbano (3,84%).


Diretora do MGI destaca avanços e desafios na inclusão de negros no serviço público federal

Posted by: | Posted on: fevereiro 10, 2025

Em entrevista ao EXTRA, Maria Aparecida Chagas Ferreira, Diretora de Provimento e Movimentação de Pessoal do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) do governo federal, analisou a trajetória da presença negra no funcionalismo público federal e as ações afirmativas implementadas para reduzir desigualdades raciais no país. Segundo a diretora, a luta pela redução dessas diferenças começou a ganhar maior destaque no Brasil apenas no início dos anos 2000, após a realização da Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban, na África do Sul.

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A partir desse momento, as discussões sobre igualdade racial no Brasil passaram a ser mais sistemáticas e incluíram importantes marcos legais, como a Lei 12.990/2014, que implementou as cotas para negros em concursos públicos.

Dados mostram discrepância

De acordo com dados de 2022, ainda existe uma discrepância entre a presença de negros no serviço público federal e sua proporção na população brasileira, que é de 56%, segundo o IBGE. No Poder Executivo federal, os servidores negros representam 36% do total, mas essa porcentagem cai para 27% quando se considera apenas os cargos que exigem ensino superior.

Além disso, as mulheres negras, que são o maior grupo populacional do país, representam apenas 17% dos mais de 500 mil servidores federais. Em carreiras de maior prestígio e remuneração, essa representação diminui ainda mais, sendo de apenas 5% para as mulheres negras nas chamadas “Carreiras de Estado”.

Políticas inclusivas

Para tentar corrigir esse desequilíbrio, o governo federal, em parceria com diversos órgãos, tem implementado políticas públicas inclusivas.

Entre as iniciativas recentes, Ferreira cita o Decreto 11.443/2023, que estabeleceu a reserva de 30% dos cargos de comissão e funções de confiança para pessoas negras no governo federal.

Atualmente, 39,87% dos cargos de nível 1 a 12 e 30,4% dos cargos de nível 13 a 17 são ocupados por pessoas negras. Além disso, em colaboração com outros ministérios, foi lançado o Programa Federal de Ações Afirmativas, que busca garantir direitos e oportunidades para mulheres, negros, quilombolas, indígenas e pessoas com deficiência.

Ainda segundo a diretora, um dos principais desafios para ampliar a presença negra no serviço público é garantir a aprovação do Projeto de Lei 1.958/2021, que visa a aprimorar a Lei de Cotas.

Essa proposta amplia a reserva de vagas de 20% para 30%, inclui indígenas e quilombolas, e busca aperfeiçoar a implementação das cotas, tornando-a mais eficiente e garantindo maior segurança jurídica tanto para os administradores públicos quanto para os candidatos.

Novos concursos

Ferreira também aponta a necessidade de garantir concursos públicos constantes para a recomposição gradual da força de trabalho no serviço público, como forma de dar efetividade às políticas de inclusão. Para ela, a apropriação de um modelo de ação afirmativa no Brasil precisa ser contextualizada, considerando as especificidades históricas e sociais do país, que, ao contrário dos Estados Unidos, adota cotas raciais e sociais desde sua origem.


O impacto das deportações na vida de brasileiros e das famílias

Posted by: | Posted on: fevereiro 7, 2025

Um voo com brasileiros deportados dos Estados Unidos chega ao Brasil nesta sexta-feira (7/2). A aeronave sairá da cidade de Alexandria, na Luisiana, e pousará em Fortaleza (CE). Em seguida, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) voará para o Aeroporto Internacional Belo Horizonte, em Confins, com outros emigrantes repatriados. Diante da intensificação dos decretos de deportação de Donald Trump, mineiros do Vale do Rio Doce, região conhecida pelo alto fluxo migratório ao país norte-americano, lutam para reunir suas famílias interamericanas no rastro das autoridades, enquanto os que retornam ao Brasil tentam reconstruir suas vidas.

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“A melhor coisa que fiz foi ter ido para a América”, afirmou o mineiro João*, de 37 anos, deportado no ano passado, deixando dois filhos menores de idade sob a tutela da ex-esposa, todos indocumentados. Natural de São José de Safira, no Vale do Rio Doce, ele vive atualmente em Governador Valadares, a cidade mais conhecida pelo alto fluxo migratório rumo aos Estados Unidos. João se mobiliza para trazer os filhos de volta antes que a imigração encontre a família e os separe. Com as passagens compradas, a luta agora é contra o tempo.

“A mãe deles foi até à Corte tentar se legalizar porque casou com um ‘americano’, mas deram uma carta de deportação para ela, que tem 60 dias para voltar ao Brasil. Se correr esse prazo, vão encontrá-los no endereço fixo”, explicou. Os recursos para comprar as passagens foram enviados às crianças, de 14 e 12 anos, que serão embarcadas sozinhas em voo para o Brasil em até 20 dias.

Assim como boa parte dos brasileiros que vão para a terra do Tio Sam, João* foi buscar melhores condições financeiras, com os dois filhos e a companheira, pela fronteira do México. “Atravessamos uma favela em Tijuana com estupradores e ladrões. Só que o ‘coiote’ conhecia o lugar, então não fomos atacados. Do outro lado, em San Diego, os policiais nos esperavam.” Apesar da preocupação com a família, ele concorda com as políticas anti-imigrantes de Donald Trump. “Ele quer deportar mesmo, mas eu entendo. Imagina se o Brasil ficasse cheio de venezuelanos, por exemplo? Nós (imigrantes) não pagamos impostos”, disse.

O chamado “cai-cai” é uma das formas que os imigrantes brasileiros encontraram para passar pela fronteira do México e chegar aos Estados Unidos utilizando o próprio sistema norte-americano. A prática é investigada pela Polícia Federal no Brasil e consiste em famílias inteiras, às vezes constituídas ficticiamente, se entregarem com o propósito de evitar ou dificultar o processo de deportação imediato. O grupo fica detido por certo tempo nos EUA e depois é libertado no território norte-americano com prazo para retorno, mas seus integrantes não voltam para o país de origem.

O imigrante foi parado pela polícia norte-americana dirigindo em alta velocidade e não compareceu ao julgamento do processo. Encontrado pelas autoridades, foi preso por 45 dias e enviado de volta ao Brasil. “Voltei no mesmo avião da Global X em que os últimos deportados vieram, também fiquei com as mãos e os pés algemados, três horas parado na Luisiana. Só um passageiro foi maltratado, mas porque desafiou as autoridades”, contou.

João quitou a dívida de R$ 125 mil adquirida com a entrada ilegal no país e hoje trabalha como autônomo em Governador Valadares, aguardando pelo abraço dos filhos. “Quem ganhou seu troco, ganhou. Quem não fez dinheiro, pode vir embora”, afirmou. O ex-imigrante ainda relatou que, além dos deportados, vários amigos imigrantes estão saindo voluntariamente dos Estados Unidos.

Em Itambacuri, a 130 quilômetros de Governador Valadares, José* luta para reconstruir a vida após ter sido deportado na última “leva” de emigrantes que chegou a Confins em 25 de janeiro. O casal só pôde voltar para casa no fim da tarde daquele domingo, após quase 20 horas de espera na rodoviária de Belo Horizonte. “Viemos algemados. Estava muito quente”, relatou.

Com a mulher, ele passou três anos e meio sem visto para viver nos Estados Unidos. O casal deixou para trás uma empresa, casa e um carro. Ao Estado de Minas, o repatriado contou que está hospedado na casa de uma irmã. “Fomos a um compromisso na Corte e ficamos presos. Só conseguimos avisar a família quando chegamos ao Brasil”, revelou.

Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a emigração dos valadarenses aos EUA são do Censo de 2010. A cidade figurava como a mais representativa no cenário brasileiro e mais de 8 mil valadarenses teriam se mudado para o país naquele ano. O número representa 3% do total da população, que somava mais de 260 mil habitantes. Ainda há a subnotificação causada pelo esquema de imigração ilegal que a Polícia Federal de “cai-cai”.

O governo brasileiro não informa dados de emigrantes por cidade, apenas por estado, por meio do Sistema de Tráfego Internacional (STI). Atualmente, o STI registra informações de entrada e saída de pessoas do país, com todos os tipos de vistos possíveis, portanto não há diferenciação entre quem chega ou sai a trabalho ou para turismo. O painel é mantido pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra).

O início do interesse da população valadarense pelo “sonho americano” data da década de 1960, quando engenheiros norte-americanos chegaram à cidade para ampliar a estrada de ferro Vitória-Minas, com destino à capital capixaba. Os “figurões” chegaram com carros importados e construíram casas de madeira no estilo norte-americano, o que despertou o desejo da população jovem, que estava diante de um cenário de enfraquecimento econômico no comércio e pecuária.

Quando o grupo deixou a cidade, um dos engenheiros resolveu permanecer com a família e abriu uma escola de inglês com intercâmbios para os EUA. À época, 17 jovens abastados fizeram a viagem e voltaram maravilhados com as oportunidades no país. Todos ficaram sabendo, e o desejo de emigrar cresceu ainda mais. “Quem tinha condições tirava o visto de trabalho e pagava mil dólares. Quem não tinha, tirava o visto de estudante e ficava lá sem permissão para trabalhar. Com as proibições, começaram a ir pela fronteira”, explicou Sueli Siqueira, doutora em ciências humanas pela Universidade do Vale do Rio Doce.

Siqueira ainda detalhou que os grupos foram formando redes de apoio para outros imigrantes da região. “Eles não são ‘pobres coitados’. Quando emigram, vão para a casa de um tio, de uma prima, um pai. Tem que ter esse capital cultural de conhecer pessoas lá, e o dinheiro para ir pela fronteira também. No primeiro grupo que foi para lá, a pessoa que menos abrigou pessoas recebeu 23 em casa, buscou no aeroporto e ajudou a arrumar emprego. E assim eles formaram uma rede”, contou.

A pesquisadora acredita que as medidas de Trump podem conter o fluxo migratório por um tempo, mas não cessarão as viagens indocumentadas de imigrantes. “Sempre existiu deportação, (Barack) Obama foi um dos que mais deportou. O problema é que agora a nova gestão está criminalizando os imigrantes, e eles não são criminosos, eles têm passaporte e documentação, só não possuem o visto de trabalho. Agora isso vai conter as imigrações, mas eles vão achar outro jeito de ir, como sempre acharam”, apostou Siqueira.

A Prefeitura de Governador Valadares, em caráter de urgência, determinou a instalação do Serviço de Apoio ao Valadarense em Situação de Deportação. Os repatriados e seus familiares receberão acolhimento dos órgãos de serviço social e saúde municipais, além de acesso a um banco de empregos.

Em nota, o Executivo municipal falou sobre a alta expectativa de aumento populacional. “A medida acontece diante da expectativa de uma demanda crescente de famílias e indivíduos que devem retornar a Governador Valadares. A cidade de quase 260 mil habitantes, segundo o censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está localizada no leste de Minas Gerais, e ficou famosa pelos altos números de pessoas que migraram para os EUA desde a década de 1960 em busca do sonho de uma vida melhor”, disse.

(*Nomes fictícios)

Deportados dos EUA – Passam pela sala de embarque do aeroporto de Manaus: Brasil condenou o “desrespeito aos direitos fundamentais” dos migrantes ilegais brasileiros e alterou a rota dos novos voos

Depois de negociações, um novo trajeto para o voo de brasileiros deportados dos Estados Unidos foi definido. O traslado previsto para hoje (7/2) terá Fortaleza como destino. Para finalizar a viagem, uma outra aeronave, em caráter excepcional, será disponibilizada pela Força Aérea Brasileira (FAB) com destino ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. A nova dinâmica foi definida a partir da polêmica envolvendo o primeiro voo de deportados após Donald Trump assumir o segundo mandato. O voo foi realizado em meio a denúncias de falhas no avião, maus-tratos e uso de algemas.

Com o novo trajeto, o governo brasileiro espera reduzir o tempo total de viagem e garantir suporte imediato aos cidadãos que retornam ao país em condições de vulnerabilidade. O embarque dos brasileiros começará em Alexandria, no estado de Luisiana (EUA), e terá uma escala técnica em Porto Rico.

A operação de embarque dos repatriados, ainda de madrugada, seria acompanhada pelo diplomata do Consulado-Geral do Brasil, em Houston. A previsão é que a aeronave chegue a Fortaleza à tarde. Tanto na capital do Ceará quanto na capital mineira o governo federal vai montar um esquema de recepção e apoio.

Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na Luisiana o Itamaraty e a Polícia Federal vão ter todos os dados dos passageiros. “Aí, nós vamos ver quantas pessoas tem, de que estado são, para a gente poder cuidar quando o voo chegar aqui”, disse Lula em entrevista à imprensa.

Nos dois aeroportos, a PF fará uma operação especial com objetivo de realizar procedimentos migratórios e de segurança aeroportuária. Para atender as pessoas que chegarem ao aeroporto de Fortaleza, a equipe do Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM) estará mobilizada. O serviço também terá o apoio de uma equipe do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O posto avançado é um serviço oferecido pela Secretaria dos Direitos Humanos do Ceará (SEDIH) com um atendimento multidisciplinar.

Já no aeroporto de Confins, o Posto de Acolhimento aos Repatriados, criado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania vai garantir que os repatriados tenham acesso à internet gratuitamente, carregador de celular e canais para que possam entrar em contato com os familiares, além de fornecer orientações sobre serviços públicos de saúde, assistência social e trabalho.

Durante esta semana, um grupo de trabalho se reuniu para buscar uma solução na chegada dos brasileiros deportados. A equipe é formada por representantes do Itamaraty, do Ministério da Justiça e Segurança Pública e da Polícia Federal, pelo lado brasileiro, e por representantes da Embaixada dos EUA em Brasília e do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA (ICE, em sua sigla em inglês), pelo lado norte-americano.

O novo destino corresponde a cerca de cinco horas a menos de voo em comparação a Confins. O uso de algemas é praxe do governo norte-americano para traslado dos deportados. Com o novo trajeto, a expectativa é evitar que os brasileiros estejam algemados enquanto sobrevoam o território brasileiro. O voo desta sexta-feira será acompanhado em tempo real pelo grupo e também será objeto de avaliação visando à organização dos voos seguintes.

Este será o segundo grupo de imigrantes brasileiros que retorna ao país desde o início da segunda gestão de Trump à frente da Casa Branca. O número de passageiros nessa aeronave não foi divulgado. Ainda deve ser resolvido também se essa mudança será definitiva. No primeiro voo de deportação de imigrantes, em 24 de janeiro, 88 brasileiros chegaram ao país acorrentados e algemados.

O voo tinha como destino o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, mas a aeronave fretada pelo governo estadunidense apresentou problemas técnicos, o que fez a viagem terminar em Manaus, no Amazonas. No dia seguinte, uma aeronave da FAB transportou os brasileiros até o destino oficial. O traslado foi alvo de críticas do governo brasileiro que não concordou com o tratamento dado aos brasileiros durante o voo.

O voo fazia parte de acordo assinado, em 2018, entre o presidente brasileiro na época, Michel Temer, e o então ocupante da Casa Branca, Joe Biden. O acordo bilateral prevê a realização de voos de repatriação de imigrantes ilegais que não tinham mais possibilidade de recursos junto ao governo dos Estados Unidos.

*Estagiária sob a supervisão do subeditor Humberto Santos


O passado rico da cidade mineira que se tornou polo de ‘exportação’ de imigrantes ilegais aos EUA

Posted by: | Posted on: fevereiro 7, 2025

Bem antes de ganhar fama nacional como “exportadora” de brasileiros na década de 80, Governador Valadares, cidade de 279 mil habitantes localizada a 315 km de Belo Horizonte (MG), registrou ainda nos anos 60 seus primeiros moradores que decidiram emigrar para os Estados Unidos.

Foram 17 jovens que, com visto legal para trabalhar, deixaram a cidade para viver o sonho americano.

Ganhar dinheiro, naquela época, não era a principal motivação da viagem: nascidos em famílias de classe média alta, os jovens tinham o segundo grau completo, falavam inglês e eram atraídos pela curiosidade de conhecer um país que consideravam rico, desenvolvido, culturalmente interessante e cheio de grandes oportunidades.

Desde que aquelas primeiras pessoas emigraram, Valadares se transformou até os dias de hoje em um dos principais polos de migração — tanto a legal quanto a ilegal — do país.

Dados do censo demográfico de 2010 colocam a cidade na sétima posição entre os dez municípios brasileiros com maior número de emigrantes internacionais, com um total de 8.800 emigrantes no exterior.

O perfil dos emigrantes, no entanto, mudou bastante desde os anos 60: se antes os primeiros a deixar o país pertenciam a famílias abastadas e entraram nos EUA com visto e documento legalizados, a partir da segunda metade da década de 80 quem partia para tentar a sorte nos EUA tinha em grande parte o ensino fundamental completo (36%), entrou nos Estados Unidos pela fronteira do México ou Canadá (51%) e, em parte dos casos, usando documentos falsos (10%).

Os dados são da pesquisadora Sueli Siqueira, titular da Universidade Vale do Rio Doce no campus de Governador Valadares. Dedicada a estudar os efeitos da migração sobre os mineiros que vão para os EUA e retornam ao Brasil, ela entrevistou e organizou em uma pesquisa os depoimentos dos primeiros valadarenses a emigrarem.

Em 1960, Valadares já tinha uma escola de inglês, que viabilizou os primeiros intercâmbios estudantis para os EUA. Com eles, em uma época em que essa era uma oportunidade restrita às capitais do país, valadarenses de classe alta iam passar um ou dois anos estudando fora. Quando voltavam, encantavam a cidade com as histórias sobre as maravilhas da vida na América.

Atualmente, os Estados Unidos endureceram a política de imigração e intensificaram batidas e operações em busca de migrantes sem documentos desde a chegada ao poder de Donald Trump, em 20 de janeiro.

Sonho americano

O primeiro intercambista de Valadares, segundo as pesquisas de Siqueira, foi para a cidade de Dumas, no Texas. Sua viagem e estadia foram noticiadas amplamente no jornal local, sempre enfatizando as benesses de se viver em um país desenvolvido.

O jovem logo percebeu, e espalhou a notícia por meio de cartas, que no país havia oportunidades para os amigos que quisessem trabalhar e estudar de maneira legal. Quando o primeiro intercambista voltou, todos queriam saber da experiência.

“Quando cheguei fazia fila na minha casa para ver o álbum de fotografia e para eu contar como era a vida lá. Durante muitos meses eu não consegui falar de outra coisa, meus amigos só queriam ouvir sobre a vida lá”, disse um dos primeiros intercambistas, que viajou para estudar em 1963, em entrevista concedida 50 anos depois à especialista.

Para a pesquisa “Histórico das migrações da Região de Governador Valadares para os Estados Unidos”, Siqueira entrevistou em 2010 os primeiros emigrantes que viajaram para trabalhar nos EUA, recuperando seus relatos sobre a realidade da época e reconstruindo o contexto histórico em que esses primeiros 17 emigrantes valadarenses deixaram o país.

As entrevistas realizadas por Siqueira dão ideia do fascínio que, desde então, os EUA exerciam sobre a população da cidade.

“Eu tinha um sonho de conhecer a Broadway. Quando eu cheguei perguntei onde era a Broadway e disseram que eu estava nela, fiquei muito emocionado. Também tive sorte de morar na Rua 42 bem no centro de New York”, afirmou um dos valadarenses, que emigrou em 1964 e foi entrevistado, 50 anos depois, para a pesquisa da professora.

“Toda vida a situação financeira da minha família foi boa, quando resolvi emigrar a família me chamou de doido, falou que eu era aventureiro. Ninguém sabia, mas eu queria ir para lutar na guerra do Vietnã. Todas as notícias que chegavam mostravam a aventura que era aquela guerra”, afirmou outro entrevistado, que foi embora para trabalhar nos Estados Unidos em 1967.

Mas por que, em tempos em que grande parte da população brasileira era analfabeta e rural, uma cidade pequena no interior de Minas Gerais já tinha intercambistas, escolas de inglês e tantas conexões com a vida nos EUA? E por que anos mais tarde, quando a década de 80 ficou conhecida como a “década perdida” por sucessivas crises econômicas, tantos valadarenses migraram para os EUA, em vez de partir para as grandes metrópoles brasileiras? A resposta, segundo Siqueira, envolve fatores que passam por economia e história, tanto de Valadares quanto dos Estados Unidos.

A primeira família americana

‘Mister Simpson’, engenheiro que firmou residência em Governador Valadares com a família nos anos 1940

Em 1942, um americano conhecido como Mister Simpson foi um dos engenheiros que se mudaram para Governador Valadares, localizada na região do Rio Doce, no leste de Minas Gerais, e em meio à Mata Atlântica.

Ele veio para trabalhar na ampliação da Estrada de Ferro Vitória a Minas, entre Vitória e Belo Horizonte. Quando as obras terminaram e todos os engenheiros voltaram para os EUA, Mister Simpson decidiu permanecer na cidade junto com a família. Continuou trabalhando como funcionário da então Vale do Rio Doce e viveu em Governador Valadares até sua morte, em 1969, segundo Siqueira.

A convivência com o grupo americano, desde aquela época, introduziu um contato com a cultura que ficou impregnado no “DNA” valadarense. “Foi um evento que ficou na memória popular”, diz Siqueira, em entrevista à BBC News Brasil.

“Nesse período da presença deles houve um desenvolvimento na infraestrutura, na saúde. E, ainda na década de 40, os moradores de Governador Valadares tiveram acesso ao dólar. Os depoimentos relatam que era engraçado porque eles tinham torradeira, máquina de lavar roupa, eles trouxeram tudo isso. Era um pequeno grupo vivendo o estilo de vida americano em uma cidade pequena.”

Depois do fim das obras, Mister Simpson e sua esposa, Geraldina Simpson, ficaram em Valadares e decidiram abrir uma escola de inglês, a Ibeu. A instituição também aparece com destaque nos relatos dos primeiros jovens que emigraram para trabalhar nos EUA entrevistados por Siqueira.

“Tinha um programa da dona Geraldina Simpson que era de intercâmbio. O Coelho foi o primeiro e quando ele retornou me deu informações sobre os EUA, que se eu conseguisse o visto de trabalho pra lá que não teria problema nenhum. Trabalharia vinte horas e estudaria numa escola normalmente e o que eu ganhava dava para me sustentar o mês todo sem problema. Aqui em Governador Valadares tinha eu, e outros três que queriam ir. Conseguimos o visto de trabalho e partimos”, afirmou um entrevistado, que emigrou de Valadares em 1964.

Foto do casal Simpson publicada no Diário do Rio Doce, em 1964, sobre a chegada dos dois a Valadares

“A ideia de ir para os EUA ficou mais atraente. Assim que fez o intercâmbio estudantil nos EUA ele me passou as informações que eu precisava: que era a de que lá conseguia sobreviver e que era possível emigrar para lá com o visto de trabalho e não ter problema. Não decidimos emigrar por questões financeiras, fomos mais pelo desejo de conhecer e estar em mais contato com a música americana, que era nossa paixão”, diz um outro entrevistado, que emigrou em 1964.

No mesmo ano, mais amigos do primeiro intercambista tomaram o mesmo rumo. Chegaram a Nova York sem nenhum contato, mas tinham as informações sobre onde se hospedar e conseguir trabalho.

“As cartas, acompanhadas de fotos, eram enviadas com frequência. Elas relatavam as oportunidades e maravilhas da terra, difundindo, assim, a grande aventura que era emigrar. Estes foram seguidos por outros 14, todos com visto de trabalho. Todos falavam inglês, tinham o segundo grau completo e pertenciam a famílias das classes mais abastadas da cidade”, diz o estudo da pesquisadora.

“Esses dezessete primeiros jovens emigraram com visto de trabalho e se constituíram nos pontos iniciais do movimento migratório de Governador Valadares para os EUA e deram origem a um fluxo migratório, aumentando consideravelmente a presença de brasileiros nos Estados Unidos”, diz.

A partir de 1966, segundo a pesquisadora, os relatos demonstram que poucos foram os que conseguiram visto de trabalho, tanto pelo alto custo do depósito exigido quanto por negativa do consulado, e o visto de turista passou a ser o mais utilizado.

“Na segunda metade dos anos 1980, a negativa do visto de turista atingia a maioria dos que desejavam migrar. Crescem então as alternativas: passaporte montado (falso) e a travessia pela fronteira do México”.

A formação dos laços sociais consolidados ao longo das décadas tornava, para muitos valadarenses, migrar para os Estados Unidos mais fácil e familiar do que mudar-se para uma capital como São Paulo, por exemplo.

A busca pelos vistos de turista estimulou uma espécie de “indústria de serviços” para ajudar nessa tarefa. Passam a existir na cidade agências de turismo que organizam a documentação, informam como proceder na hora da entrevista, como se vestir, fazem o agendamento e oferecem transporte terrestre até o consulado.

Estudos de Sueli Siqueira realizados em 2009 apontam que 89% dos emigrantes entrevistados por ela retornaram ao Brasil na mesma situação em que se encontravam quando chegaram aos Estados Unidos, ou seja, continuavam indocumentados. Em grande parte, eram emigrantes que estiveram nas cidades de Nova York, Miami e Boston.

“No final dos anos de 1990 e início dos anos 2000, observa-se uma mudança deste quadro — os mais pobres também passam a migrar, financiados pelos emigrantes da região que se estabeleceram e montaram algum tipo de negócio demandando mão de obra. São negócios de faxina, pintura e construção civil ou comércio étnico. Estes proprietários financiam a passagem a ser paga com trabalho.”

Também influenciaram essa conexão Valadares-EUA, segundo Siqueira, a existência de um mercado de trabalho secundário no país de destino, de trabalhos menos qualificados, desprezado pelos trabalhadores americanos devido ao baixo status e baixa remuneração, mas atrativo para o emigrante.

Além disso, ela pontua o efeito do desemprego e da queda no poder aquisitivo da classe média a partir do fim dos ciclos de prosperidade econômica nos anos 60.

Por que engenheiros americanos estavam em Valadares?

As obras na estrada de ferro que trouxeram Mister Simpson a Valadares eram necessárias porque, na ocasião, o município vivia um boom demográfico e econômico. A estrada de Ferro Vitória a Minas, construída em 1910 para transportar toras de madeira e sacos de café, foi reformada quando teve início a partir da década de 40 também a exportação de minério de ferro.

Nos anos 30 e 40, uma das estrelas da economia valadarense tornou-se a exploração de mica, matéria-prima que era empregada na indústria bélica

Nos anos 30 e 40, uma das estrelas da economia valadarense tornou-se a exploração de mica, matéria-prima que era empregada na fabricação de materiais elétricos e instrumentos de precisão, tornando-se muito necessária para a indústria bélica durante a 2ª Guerra Mundial.

A produção, destinada quase exclusivamente aos Estados Unidos, foi ampliada consideravelmente, tornando-se um negócio altamente lucrativo, que empregava milhares de pessoas.

A exploração do solo e do meio ambiente valadarense aqueceu a economia e acelerou o crescimento da pequena cidade. Em 1940, a população de Governador Valadares era de 5.734 habitantes; em 1950 chegou a 20.357 habitantes e, dez anos depois, atingiu a cifra de 70.494 habitantes, segundo o pesquisador Haruf Salmen Espíndola, doutor em história econômica e professor da Univale em Governador Valadares.

“Entre os outros fatores que aceleraram o povoamento, destaca-se a decisão do governo brasileiro, em 1942, de exportar o minério de ferro de Itabira, (a 200 km de Valadares) em grande escala. Essa decisão resultou na criação da Companhia Vale do Rio Doce”, diz estudo do pesquisador.

Sob coordenação e financiamento dos Estados Unidos, a ferrovia foi totalmente reformada. Sob tutela americana também foi erradicada a malária, que era a maior dificuldade dos povoadores e ameaçava a atividade exploratória. Foram criados serviços especiais de saúde, que previam a implementação de saneamento básico e assistência médica.

“Na área de expansão urbana ficava a lagoa do Sapo, que servia de bebedouro para as boiadas e constituía-se num dos maiores focos do mosquito transmissor. A eliminação da lagoa do Sapo somente foi conseguida vencendo a enorme resistência dos que a utilizavam. Seu fim significou um grande alívio para a população urbana”, explica Espíndola.

“Era comum ver nas ruas de Governador Valadares o triste espetáculo de doentes definharem pelo chão.” Havia também grande incidência de leishmaniose e esquistossomose na região.

O fim da riqueza valadarense

A partir de 1960, a produção de mica despencou; ao fim da década, a produção já era bastante irrisória. O refluxo da atividade extrativa da mica teve consequências sérias para a economia local, com redução do número de empregos do setor, que despencou de cerca de 3.000 pessoas, no início dos anos 50, para cerca de 500 empregos, no início dos anos 60.

Além dos empregos diretos, a queda da demanda atingiu fortemente as centenas de famílias que trabalhavam a mica em suas próprias casas.

O perfil predatório das atividades da região do Rio Doce, que deixou poucas alternativas à medida que os recursos foram se esgotando, também contribuiu para o fim do período de expansão econômica em Valadares.

“O crescimento econômico e demográfico nas décadas de 40 e 50 foi baseado na exploração dos recursos naturais. Entretanto, a devastação da floresta e o esgotamento dos solos provocaram retração econômica e esvaziamento demográfico regional, repercutindo estruturalmente sobre a cidade”, afirma o pesquisador Espíndola.

O esgotamento dos recursos naturais exigiu dos empresários maiores investimentos de capitais para se obter ganhos de produtividade, porem a opção do capital foi migrar, segundo o estudo. “Restou a imagem da antiga prosperidade fixada na paisagem: nas ruínas das serrarias, das antigas usinas”, diz Espíndola em artigo sobre a formação da cidade.

Ao longo dos anos 60, as empresas e investidores do setor madeireiro foram migrando principalmente para o norte do Espírito Santo e sul da Bahia.

A região de Valadares, de polo de atração e crescimento, converteu-se, gradativamente, em reservatório de mão-de-obra para a indústria e trabalho doméstico. A população passou a mudar-se para outros Estados em busca de novas fronteiras agrícolas e centros industriais em crescimento. Com isso, a cidade foi perdendo o dinamismo populacional e econômico.

Hoje, Governador Valadares possui diversos dilemas de magnitude considerável, segundo o pesquisador: escassez de capital, abundância de mão-de-obra, baixa qualificação da força de trabalho e graves problemas ambientais, especialmente a degradação do solo e o assoreamento dos rios, em função do histórico predatório.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a cidade tem salário médio mensal de dois salários mínimos, e 35% da população vive em domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa.

Foi nesse ambiente que muitos valadarenses, em busca de melhores oportunidades, emigraram ilegalmente e acabaram deportados, como mostrou outra reportagem da BBC na cidade.

“Os anos 70 foram de incomparável crescimento econômico de Minas Gerais, com índices superiores a 10% ao ano. Nesta década, contrariamente, a região do Rio Doce teve índice negativo de crescimento, com a população regional reduzindo-se em 0,14% ao ano.”

A região que foi considerada a “terra da promissão”, passou a ser mencionada nos documentos oficiais, a partir dos anos sessenta, como “região problema”.

* Essa reportagem foi publicada originalmente em março de 2020 e atualizada em fevereiro de 2025


Um grande nó para Lula desatar na reforma ministerial

Posted by: | Posted on: fevereiro 4, 2025

O destino político do atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, se tornou um dos maiores nós da reforma ministerial planejada pelo presidente Lula.

Um dos auxiliares de Lula na lista de cogitações para trocar de pasta no redesenho da administração lulista, Padilha é alvo de queixas no Congresso e no próprio governo em razão das dificuldades enfrentadas pelo presidente na aprovação de matérias de interesse do Palácio do Planalto desde o início do governo.

Mas Lula não pretende abrir mão dele na Esplanada, e por isso vem considerando colocá-lo ou na Saúde no lugar de Nísia Trindade, cujo desempenho é ainda mais atacado, até mesmo no PT. Além de ser médico formado pela Unicamp, Padilha também já foi Ministério da Saúde na gestão de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014.

Mas, pela regra eleitoral, o ministro teria de se desincompatibilizar do cargo de ministro – seja qual pasta estiver ocupando – em abril do ano que vem, para disputar as próximas eleições. Ele deve tentar se reeleger para mais um mandato na Câmara dos Deputados em 2026.

“Um ano de gestão é um tempo muito pequeno para alguém deixar um legado numa área tão estratégica para o governo, como é a Saúde”, resume um interlocutor próximo de Lula. E além disso, deixaria a pasta à mercê da cobiça do Centrão às vésperas da campanha eleitoral.

A Saúde possui um dos maiores orçamentos de toda a Esplanada – o deste ano é de R$ 241,61 bilhões – e também é uma das áreas nevrálgicas na execução de emendas parlamentares.

É por isso que alguns petistas avaliam reservadamente que uma solução mais adequada seria deixar a Saúde com um quadro mais técnico ligado ao PT, o do médico Arthur Chioro, que ficasse até o final do mandato.

Nesse caso, a alternativa seria deslocar Padilha para um ministério de perfil de menos execução orçamentária e mais diálogo com a sociedade, como a Secretaria-Geral da Presidência.

A pasta é a responsável pela interlocução do Planalto com movimentos sociais, mais voltada para a construção de rede de apoio à reeleição de Lula do que para entregas e a oferta de serviços públicos à população.

Também seria uma forma de o ministro intensificar a ponte com entidades da sociedade civil e sindicatos, o que lhe serviria por tabela para angariar apoios em sua a campanha de reeleição à Câmara.

Na nova montagem ministerial que se desenha, o atual chefe da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, é considerado carta fora do baralho no PT – e já levou puxão de orelha do próprio Lula no ano passado, durante um esvaziado ato de comemoração ao Dia do Trabalho em São Paulo.

Hoje, no entanto, quem é mais cotado para substituí-lo é a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, outra peça importante do tabuleiro político petista. Ela também tem sido considerada para o Ministério do Desenvolvimento Social, que cuida de uma das vitrines da administração lulista, o Bolsa Família.

Após participar de cerimônia do Congresso que marcou o início do calendário legislativo, Padilha foi abordado pessoalmente pelo blog e questionado se preferia voltar para a Saúde ou ocupar outro cargo no primeiro escalão.

“Tudo é bom. O ruim é ser oposição”, respondeu o ministro. No caso do governo Lula, não é exagero dizer que parte da oposição tá dentro do próprio governo.

Recuo de Lula no IBGE não encerra tensões na gestão de Marcio Pochmann

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Dólar fecha em queda a R$ 5,81 após acordo entre EUA e México

Posted by: | Posted on: fevereiro 3, 2025

Após registrar um breve período de valorização durante a manhã, o dólar comercial voltou a cair na tarde desta segunda-feira (3/2) e fechou em queda de 0,38%, cotado a R$ 5,81.

É o 11º pregão consecutivo em que a moeda norte-americana encerra em queda, no primeiro dia de operações do mercado em fevereiro. No mês anterior, o real foi a 2ª moeda que mais se valorizou ante o dólar no mundo, atrás apenas do rublo russo.

O movimento foi na direção contrária à média de outras principais divisas do mundo, visto que o Índice DXY, que realiza essa medição, encerrou o dia em alta de 0,54%.

Na avaliação de especialistas do mercado financeiro, a moeda brasileira foi beneficiada com o acordo entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, para adiar a aplicação da taxa de 25% em produtos mexicanos importados pelos EUA.

O analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura acredita que o real deve se beneficiar ainda mais dessa distensão temporária dos EUA com outros países, enquanto perdurar. No curto prazo, o especialista acredita que a moeda brasileira deve permanecer em um patamar próximo a R$ 5,80 ou, até mesmo, chegar a R$ 5,70.

Apesar disso, o dólar deve voltar a ganhar força assim que as medidas adotadas por Trump se tornarem mais concretas no âmbito internacional.

“Além disso, quando a gente coloca em consideração todos os fatores locais, eu acho que não dá para se sustentar nesse patamar mais baixo e provavelmente o câmbio voltaria para R$ 6. Então, eu acredito que continue caindo, continue nessa toada de real ganhando força contra o dólar, mas eu acho que não se sustenta (a longo prazo)”, considera o analista.

Para o sócio da Vokin Investimentos Guilherme Macêdo, o movimento de queda do dólar ante o real desde o início do ano pode ser observado como uma reprecificação do mercado após uma valorização muito abrupta da moeda norte-americana em dezembro de 2024.

Essa percepção ganhou força após o resultado da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) ter ficado menor do que a esperada por parte dos agentes do mercado. “Isso também fez com que o sentimento mais pessimista de dezembro perdesse um pouco de força”, destaca o especialista.

Apesar da valorização do real, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa/B3) encerrou em leve queda de 0,13%, aos 125.970 pontos. As ações que mais contribuíram para esse movimento no primeiro dia da semana foram as da Ambev (ABMB3), que caíram 4,77%, além da empresa de tecnologia WEG (WEGE3), que teve baixa de 2,40%.


4 mudanças no varejo brasileiro após seis meses de ‘taxa das blusinhas’

Posted by: | Posted on: fevereiro 3, 2025

Neste início de fevereiro, completam-se seis meses desde que entrou em vigor a lei que estabeleceu a taxação em 20% para compras internacionais de até US$ 50 em plataformas internacionais como Shein, Shopee e AliExpress, popularmente conhecida como “taxa das blusinhas”.

A taxação foi uma resposta do governo ao pleito de varejistas, após o forte aumento das compras digitais durante a pandemia, e diante da diferença de carga tributária entre produtos nacionais e aqueles importados através das plataformas online.

Para compras com valores entre US$ 50 e US$ 3 mil, a alíquota é de 60%. Além disso, incidem sobre as encomendas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 17% – patamar que será elevado a 20% em alguns Estados a partir de abril, conforme anunciado pelo Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz) em dezembro.

Mesmo antes de ser anunciada, a “taxa das blusinhas” gerou forte desgaste para o governo Lula, com consumidores insatisfeitos com a perspectiva de pagar mais por itens de vestuário.

Passados seis meses da taxação em vigor, já é possível avaliar seus efeitos para a economia brasileira.

Confira as quatro principais mudanças provocadas pela “taxa das blusinhas” até agora, segundo analistas.

1. Redução das compras internacionais

Na terça-feira (28/1), a Receita Federal informou que, em 2024, entraram no país 187 milhões de remessas internacionais, queda de 11% em relação a 2023, quando foram importadas 210 milhões de remessas.

Mas dados da Receita obtidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI) permitem uma visão ainda mais detalhada sobre o efeito da “taxa das blusinhas”.

Os números, que trazem dados separados para compras internacionais acima e abaixo de US$ 50 mês a mês, revelam uma queda de mais 40% nas importações de produtos até US$ 50 no primeiro mês de vigência da taxação.

Nos meses seguintes, as importações se recuperaram ligeiramente, mas seguiram em nível 30% abaixo da média do período anterior à vigência da lei.

“O que aconteceu é que você nivelou a competição [entre plataformas internacionais e varejistas tradicionais], tirou uma vantagem competitiva de preço muito agressiva, e hoje ficou muito mais parelho”, observa Alberto Serrentino, consultor especializado em varejo da Varese Retail.

“Isso fez com que aquela curva exponencial na qual as vendas [das plataformas digitais] cresciam de uma maneira muito agressiva – e você tinha novos players entrando, e isso estava se tornando uma bola de neve – fosse revertida”, completa.

Em julho, antes da taxação, a Receita Federal registrou a entrada de 17,9 milhões de remessas internacionais de até US$ 50, com valor declarado de R$ 1,5 bilhão.

Em agosto, quando passou a ser cobrado o Imposto de Importações de 20% sobre os itens até US$ 50, as compras nessa faixa de preço despencaram para 10,3 milhões — com valor aduaneiro de R$ 756 milhões —, numa queda de 43%, conforme os dados divulgados pelo órgão via LAI e obtidos pela BBC News Brasil por meio do site da Controladoria-Geral da União (CGU).

Para além desse efeito pontual no primeiro mês da taxação, comparando-se os quatro meses anteriores a agosto (abril a julho), com os quatro primeiros meses da tributação já em vigor (agosto a novembro), observa-se uma queda de 31% nas compras de até US$ 50.

“Teve um efeito importante, sim, em termos de mudar a demanda, a forma como os consumidores passaram a lidar com esse tipo de compra”, observa Ruben Couto, analista-chefe de consumo e varejo do Santander.

Couto estima que, antes do aumento da taxação, roupas vendidas pelas plataformas internacionais chegavam a ser em média de 30% a 50% mais baratas do que as vendidas pelo varejo tradicional, vantagem que diminuiu para faixa de 15% a 30% após a introdução da “taxa das blusinhas”.

2. Ganho de mercado das varejistas tradicionais

Um dos resultados dessa redução das compras internacionais é um aumento da participação de mercado de varejistas de vestuário tradicionais, observam os analistas.

Para fazer essa análise, Couto compara o crescimento do mercado de vestuário conforme a Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PMC/IBGE), com as vendas de varejistas listadas na bolsa de valores brasileira, sempre na comparação anual.

“No terceiro trimestre de 2024, que é quando essa taxação dos 20% de fato começou, o mercado cresceu 6%, Riachuelo 11%, Renner 12% e C&A 19%”, observa Couto.

No terceiro trimestre de 2024, o mercado brasileiro de vestuário cresceu 6%, enquanto a Riachuelo avançou 11%, a Renner 12% e a C&A 19%, diz economista

O analista pondera, porém, que essas empresas já vinham crescendo acima do mercado desde o quarto trimestre de 2023, mesmo antes da taxação.

Segundo ele, isso se deve em parte à criação do Programa Remessa Conforme em 2023.

A Receita Federal criou o Programa Remessa Conforme para regulamentar a importação de bens através das plataformas digitais.

Antes do programa, as plataformas se aproveitavam de uma isenção para remessas entre pessoas físicas de até US$ 50 para não pagar impostos.

Com a criação do programa, a alíquota do comércio eletrônico para produtos de até US$ 50 foi zerada, desde que as empresas passassem a registrar corretamente as importações. Isso durou até agosto de 2024, quando passou a vigorar a taxação de 20%, após aprovação de lei pelo Congresso.

Mesmo antes da entrada em vigor da taxação, a incerteza gerada nos consumidores pelo maior controle da Receita e pela perspectiva de alta dos impostos já contribuiu para o ganho de mercado das varejistas tradicionais, acredita o economista do Santander.

‘Queda nas compras internacionais ajudou, mas não é o único motivo pelo qual o varejo de moda foi bem no ano passado’, pondera analista

Alberto Serrentino, da Varese Retail, pondera, porém, que não é possível atribuir todo o bom desempenho das varejistas tradicionais ao Remessa Conforme e ao aumento da taxação.

“Há um mercado de trabalho que reagiu muito bem no ano passado no Brasil. O desemprego caiu, a renda cresceu, a confiança voltou e isso ajuda muito o consumo de moda”, observa Serrentino.

“Então a queda nas compras internacionais certamente ajudou a aumentar a demanda por compras no Brasil, mas não é o único motivo pelo qual o varejo de moda foi bem no ano passado.”

Daniel Arruda, analista de varejo da LCA 4intelligence, estima que, somente no mês de agosto de 2024, quando começou a valer a taxação de 20% para compras de até US$ 50, o Brasil deixou de importar R$ 750 milhões em itens de pequeno valor.

“Comparado com o faturamento do setor, segundo dados do IBGE, isso teria um potencial de impactar as vendas domésticas em 3,8%”, calcula o economista.

“E lembrando que, em abril, teremos a majoração do ICMS sobre encomendas internacionais de 17% para 20%. Então, é mais um estímulo para esse setor.”

3. Avanço da nacionalização nas plataformas digitais

Um terceiro efeito da “taxa das blusinhas” foi acelerar mudanças nas plataformas digitais, que ampliaram a nacionalização de seus portfólios, na busca por minimizar a perda de vendas.

A Shein, por exemplo, afirma que o marketplace local já representa 55% das vendas da empresa no Brasil. Nessa modalidade, vendedores brasileiros utilizam a plataforma da Shein para vender seus produtos aos consumidores.

A empresa reconhece, porém, que nem tudo que esses vendedores oferecem através da plataforma é produzido necessariamente no Brasil.

Marketplace local já representa 55% das vendas da Shein no Brasil

Questionada pela BBC News Brasil, a Shein estimou que “aproximadamente 75%” dos produtos vendidos por terceiros através da plataforma são produzidos localmente; patamar que chega a 85% para produtos de vestuário feminino, masculino e calçados, segundo a empresa.

Para além dos 55% de marketplace local, a Shein tem ainda 45% de vendas divididas entre produtos importados e a linha Shein Brasil, produzida em parceria com cerca de 300 fábricas brasileiras registradas junto à empresa.

A Shein não revela, porém, quanto a produção em parceria com fabricantes nacionais representa do seu negócio atualmente. Mas diz ter como meta chegar a 85% de vendas nacionais até 2026, somando nessa conta o marketplace local e as vendas da linha Shein Brasil.

Uma proposta de parceria entre Shein e Coteminas segue sem avanços, após a indústria têxtil brasileira entrar em recuperação judicial em meados de 2024.

A colaboração entre as empresas havia sido anunciada em abril do ano passado, após reunião entre a chinesa e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – a Coteminas é presidida por Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, que foi vice-presidente do Brasil durante os dois primeiros mandatos de Lula (2003-2011).

“Desde a introdução do Remessa Conforme do ano passado, todas as plataformas começaram a se adaptar e repensar um pouco o modelo no Brasil”, observa Ruben Couto, do Santander.

“Então, acredito que elas sentem o efeito do aumento da taxação, mas todas já vinham readequando seu modelo de negócios para essa mudança”, completa.

Shopee diz que atualmente 90% de suas vendas no país são de vendedores brasileiros

A Shopee afirma que atualmente 90% de suas vendas são de vendedores brasileiros.

“Acreditamos que a isonomia tributária e o fortalecimento do mercado interno são essenciais para o crescimento sustentável do e-commerce no Brasil”, disse a empresa, em nota.

A AliExpress, por sua vez, ressalta que aderiu voluntariamente ao Programa Remessa Conforme, mas critica a elevação das alíquotas.

“Essas mudanças não só alteraram a carga tributária, mas também restringiram o acesso a produtos internacionais, afetando especialmente as classes mais baixas”, disse a companhia, também em nota.

Procurada pela BBC, a Temu não respondeu a pedido de posicionamento.

4. Arrecadação recorde

Por fim, uma última mudança resultante da “taxa das blusinhas” é um aumento da arrecadação do governo federal.

A arrecadação do imposto de importação sobre remessas internacionais foi recorde em 2024, atingindo R$ 2,8 bilhões, alta de 40,7% em relação a 2023, quando foi de R$ 1,98 bilhão.

Segundo a Receita Federal, o aumento da arrecadação se deve à criação do Programa Remessa Conforme e ao estabelecimento, pelo Congresso Nacional, da tributação sobre todas as remessas, independentemente do valor da importação.

Para o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), entidade que representa os varejistas tradicionais, mesmo com a “taxa das blusinhas” e o aumento do ICMS para 20% que deve entrar em vigor em abril, os produtos nacionais seguem em desvantagem em relação aos importados.

“O país ainda está em uma condição bastante favorável à importação”, afirma Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV.

“Fazendo a composição do Imposto de Importação de 20%, com o ICMS de 17%, a carga tributária do importado é de 44,6%”, calcula o representante do varejo.

“Com o ICMS passando a 20%, a carga tributária dos importados será de 50%. Se compararmos com a carga tributária interna, que é perto de 90%, ainda tem muito caminho pela frente.”