• Direto no Ponto

Um duelo entre antigos aliados

Posted by: | Posted on: agosto 20, 2024

A disputa pela Prefeitura de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, nas eleições deste ano terá um duelo entre antigos aliados: o atual prefeito Wagner Carneiro, o Waguinho (Republicanos), e o deputado estadual Márcio Canella (União), que se tornaram desafetos no pleito de 2022. À época, Waguinho abraçou a candidatura do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto Canella se manteve ao lado do bolsonarismo. Vão concorrer ao cargo de prefeito, além de Canella, Matheus do Waguinho (Republicanos), sobrinho do prefeito; Marquinho da Farmácia (MDB); Assis Freitas (PSB) e Vinícius Cranio (PSOL).

Ex-distrito de Nova Iguaçu, Belford Roxo se emancipou em 1990. Nas décadas de 1970 e 1980, ficou conhecida mundialmente pelo número de assassinatos, problema que até hoje a coloca na lista das cidades mais violentas do país.

O salário médio dos trabalhadores empregados formalmente no município é de 1,8 salário-mínimo, e o PIB per capita de Belford Roxo chega a R$ 17.156,71, sendo o 90º entre os 92 municípios fluminenses. Dados do Índice de Progresso Social Brasil (IPS) mostram que a cidade é uma região com índices baixos em iluminação elétrica adequada nos domicílios e empregabilidade de moradores com ensino superior, por exemplo. Sendo esses alguns problemas enfrentados pela população, são questões que podem vir a surgir na campanha enquanto demandas dos eleitores.

Contudo, quanto aos índices positivos do município, Belford Roxo é considerada relativamente bem-sucedida em esgotamento sanitário adequado e acesso a lazer, cultura e esporte.

Quarto colégio eleitoral da baixada

De acordo com o IBGE, a cidade possui 483.087 habitantes e dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam para um eleitorado de 347.220 pessoas. A cidade é o quarto colégio eleitoral da Baixada. Ainda segundo o TSE, há uma curiosidade em relação ao número de eleitores. Não houve um crescimento constante: em 2016, 328.777 estavam aptos a votar. Nas eleições de 2020, o total diminuiu para 325.796, uma queda de 2.981 eleitores. Neste ano, Belford Roxo cresceu em 21.424 eleitores.

Com relação ao comparecimento e à abstenção nas últimas eleições, em 2020 foram às urnas 75,54% dos eleitores, enquanto que, em 2022, nas eleições gerais, 77,82% votaram no primeiro turno e 78,98% no segundo turno da disputa entre Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O perfil do eleitorado de Belford Roxo é semelhante ao de cidades vizinhas. Segundo dados do TSE, é majoritariamente feminino: 54%. A maior parte dos eleitores possui entre 45 e 59 anos, sendo 24,47% do número total. O segundo maior grupo de faixa etária encontra-se entre 25 a 34 anos, correspondendo a 21,65% do eleitorado. O menor é o de quem tem 16 anos (0,15%). Quanto à raça/cor dos eleitores, 91,07% não informaram à Corte Eleitoral como se identificam.

Quem são os candidatos a prefeito

Márcio Canella (União)

Márcio Canella é deputado estadual pelo União Brasil — Foto: Octacílio Barbosa/Alerj

Até então aliado de Wagner Carneiro, o Waguinho (Republicanos), rompeu com o atual prefeito em 2022. O motivo foi o apoio de Waguinho ao então candidato a presidente Lula (PT). Canella declarou voto no então presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 2014 e reeleito em 2018 e 2022, sendo o mais votado. Em 2016, foi eleito vice-prefeito de Waguinho. Em oposição à candidatura de Matheus do Waguinho (Republicanos), nome do prefeito na disputa, Canella acena ao bolsonarismo, e busca os votos dos eleitores do ex-presidente. Ele lidera as pesquisas de intenções de voto. Sua coligação reúne União, PP, PL, DC, Mobiliza, Avante, PSDB, Cidadania e PRTB.

Matheus do Waguinho (Republicanos)

Matheus do Waguinho, ao centro, é candidato a prefeito em Belford Roxo — Foto: Reprodução da internet

É o candidato do atual prefeito à sucessão ao cargo. Esta é a primeira eleição que Matheus do Waguinho disputa, não tendo um histórico na política. Tem como principal barreira o desconhecimento de seu nome por parte dos eleitores e a missão de manter o grupo de Waguinho à frente de Belford Roxo. O candidato do Republicanos também conta com o apoio da deputada federal Daniela Carneiro (União), parlamentar fluminense mais votada e mulher do prefeito Waguinho — ex-ministra do Turismo no atual governo Lula. Terá o presidente como um dos cabos eleitorais. Além do Republicanos, sua coligação é formada por PT-PCdoB-PV, PDT, PSD, Solidariedade, Pode, Agir e PRD.

Marquinho da Farmácia (MDB)

Washington Reis, Marquinho da Farmácia e seu vice, Serginho Bombeiro — Foto: Reprodução da Internet (MDB)

Inicialmente, acreditava-se que o MDB apoiaria o deputado Márcio Canella a prefeito. Mas, no mês passado, o partido anunciou a candidatura própria. Embora o MDB e o União Brasil tenham boas relações e sejam aliados em muitas outras regiões do Estado do Rio, uma possibilidade para o emedebista ter se lançado à prefeitura foi a decisão do vereador Celso do Alba (União) ter mantido sua candidatura a prefeito na vizinha Duque de Caxias. Com isso, o União tornou-se adversário de Netinho Reis (MDB) — sobrinho de Washington Reis, ex-prefeito e presidente estadual da legenda —, que busca manter o legado do tio. Essa será a primeira eleição que Marquinho da Farmácia concorrerá.

Assis Freitas (PSB)

Assis de Freitas (PSB) — Foto: Reprodução (Facebook)

Natural de Cuité (PB), é presidente municipal do PSB. Foi eleito suplente a deputado federal em 2022. Concorre pela segunda vez a prefeito. Já disputou vaga na Câmara Municipal de Belford Roxo e na Assembleia Legislativa. Foi filiado ao PCdoB e ao PT, legendas em que disputou pleitos anteriores. É ligado a movimentos populares da Baixada Fluminense. Sua chapa é “puro sangue” e não conta com alianças partidárias. Na região, tem como apoiadores de sua campanha o ex-prefeito e candidato à prefeitura de Nova Iguaçu Aluísio Gama e sua mulher, a ex-prefeita Sheila Gama. Nas redes sociais, tem mostrado sua ligação com nomes do partido, como o presidente estadual e ex-deputado Alessandro Molon.

Vinícius Cranio (PSOL)

Vinícius Cranio ao lado da deputada estadual Renata Souza — Foto: Reprodução (Facebook)

Advogado, ambientalista e com reduto eleitoral no Jardim Xavantes, bairro em que nasceu e foi criado, disputou uma vaga na Câmara Municipal em 2020 pelo PSOL, mas sem sucesso. Não conseguiu agregar partidos de esquerda para sua aliança. A maioria optou por seguir o PT no apoio ao candidato do atual prefeito. Tem candidatura afiançada pelos deputados federais Glauber Braga (PSOL) e Talíria Petrone (PSOL), que concorre à Prefeitura de Niterói. Em suas redes sociais, inclui fotos e vídeos ao lado de caciques de seu partido, como o deputado estadual Flávio Serafini e os deputados federais Chico Alencar e Tarcísio Motta, este candidato a prefeito do Rio de Janeiro. É atuante nas redes sociais.

‘Parentes’ lançam candidaturas

O rompimento entre Waguinho e Márcio Canella após as eleições de 2022 levou a uma polarização não só da briga pela Prefeitura de Belford Roxo. Essa divisão é observada também na disputa por cadeiras na Câmara Municipal. Na lista de candidaturas a vereador, há uma predominância de políticos que registraram “Waguinho” ou “Canella” em seus nomes nas urnas. Canella soma mais “parentes” nessa lista.

Nove candidatos têm nomes associados ao atual prefeito, nos mais diferentes partidos. São eles: Danielzinho do Waguinho (Republicanos), Nalvinha do Waguinho (PDT), Berg da Kombi do Waguinho (PDT), Gabi do Waguinho (Pode), Malu do Waguinho (Pode), Ednaldo do Waguinho (Agir), Lucas do Waguinho (Agir), Nuna do Waguinho (PSD) e Fábio do Waguinho (PT).

Já 15 se associaram a Canella, a maioria pelo União e pelo PL: Mel Canella (PP), Evandro Canella (PL), Nana Canella (PL), Letícia da Barreira Canella (PL), Marquinho do Canella (PL), Betão Canella (PL), Rodrigo Canella Força do Povo (PL), Derli Cipriano Canella (Mobiliza), Angelo Ramos Anjinho Canella (União), Dudu Canella (União), Nem Canella (União), Sidney Canella (União), Cris Canella (União), Sônia Rosa Canella (União) e Fabinho Canella (federação PSDB-Cidadania).

Projeto Tamo Junto

É uma parceria do EXTRA com o Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em que jornalistas e pesquisadores focalizam o processo eleitoral deste ano em dez cidades da Região Metropolitana e do Interior de Janeiro, abordando problemas, apontando soluções e apresentando os candidatos e seus planos de governo.

*Isabel de Souza é doutoranda em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento pela UFRJ, sob a supervisão de Marcelo Remigio

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