Setor de serviços cresce pelo segundo mês e renova patamar recorde, diz IBGE
Posted by: redacao | Posted on: setembro 11, 2024O volume de serviços prestados no país seguiu em trajetória de crescimento em julho, apresentando expansão de 1,2% na comparação com junho. Este é o segundo resultado positivo seguido, no período em que o setor acumulou um ganho de 2,9% (junho-julho). Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada nesta quarta-feira (11/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dessa forma, o setor renovou seu patamar recorde, suplantando o nível do mês anterior. Na comparação contra julho de 2023, o setor teve expansão de 4,3% no mês. No acumulado do ano, o volume de serviços cresceu 1,8% frente a igual período de 2023. Já no indicador dos últimos 12 meses, houve ganho de dinamismo, passando de 0,8% em junho para 0,9% em julho.
“Para o entendimento do resultado, é importante notar a ligeira disseminação das altas, registradas em três dos cinco setores avaliados na pesquisa, mas com destaque para as atividades de profissionais, administrativos e complementares e de informação e comunicação, que emplacaram, em ambos os casos, o segundo resultado positivo em sequência”, analisa Rodrigo Lobo, gerente da PMS.
A alta de profissionais, administrativos e complementares foi de 4,2%, com um crescimento de 6,5% no período junho-julho. Dentro do setor, os destaques foram as atividades de agenciamento de espaços de publicidade e a intermediação de negócios em geral.
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Por que casamentos após 60 anos estão aumentando no Brasil
Posted by: redacao | Posted on: setembro 10, 2024A assistente social aposentada Patricia Faveri achava que nunca se casaria.
Ela conta que teve alguns relacionamentos, mas passou a maior parte da vida solteira porque não tinha encontrado nenhum parceiro com quem achasse que valesse a pena dar um passo adiante.
“Pensei que ia cuidar de mim e ser feliz. Eu era feliz sozinha, confesso. Eu era muito tranquila”, diz Patrícia.
“As pessoas falavam que eu ia casar e ser feliz, mas eu vivia bem sozinha. A gente não precisa de outra pessoa para ser feliz.”
O pensamento mudou em 2018, depois que ela conheceu o argentino Miguel Angel por meio de um amigo em comum quando ele estava de férias na cidade do Rio do Janeiro, onde Patricia mora.
O interesse foi mútuo, e os dois engataram um namoro à distância quando Miguel voltou para casa, com muitas conversas pelo WhatsApp e alguns encontros por aqui e lá.
“Eu ia para lá mais que ele para cá. Eu ficava uns dois ou três meses. Fizemos isso durante seis anos”, relembra Patrícia.
Depois que Miguel se aposentou, o casal decidiu que era hora de oficializar a união. Miguel pediu a mão de Patricia ao amigo em comum dos dois. “Foi uma surpresa para mim”, diz ela.
Em julho do ano passado, os dois celebraram o casamento em um cartório e comemoraram com os amigos mais próximos. Ela tinha 63 anos e ele, 61.
Agora, Miguel quer se mudar de vez para o Brasil, porque Patrícia, uma carioca, acha a Patagônia, onde ele mora, um lugar muito frio para viver.
“Com as filhas já criadas e formadas, ele aceitou se mudar”, diz ela.
A aposentada diz que se surpreendeu com a convivência a dois e que está curtindo essa nova fase da vida. A maturidade, ela ressalta, ajuda a lidar com as adversidades de um casamento.
“A idade faz você ver as coisas diferentes. Agora eu tenho uma pessoa para ir viajar, discutir o filme que a gente vai assistir. É interessante.”
O número de idosos como Patrícia e Miguel que estão casando está aumentando no Brasil.
‘Casamentos grisalhos’ em alta
Patrícia e Miguel realizaram a cerimônia no cartório em julho de 2023 e depois fizeram uma comemoração com os amigos mais próximos
O envelhecimento da população brasileira, marcado por uma expectativa de vida cada vez maior, tem gerado novas dinâmicas sociais e comportamentais.
Entre elas, o crescimento significativo de “casamentos grisalhos” — as uniões celebradas já na terceira idade.
Este é um fenômeno que reflete tanto as mudanças culturais quanto os avanços na saúde, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
Dados recentes do Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam um aumento considerável nos matrimônios entre pessoas com mais de 60 anos.
Em 2022, ano dos dados mais recentes, foram registrados no Brasil 35.029 casamentos entre pessoas de 60 a 64 anos e 39.759 entre pessoas com 65 anos ou mais, totalizando 74.798 matrimônios.
Esse crescimento vem ocorrendo desde 2018. Naquele ano, para as mesmas faixas etárias, esses números somavam 60.580 uniões. Isso representa um aumento de 23,5% neste período.
A tendência reflete uma mudança significativa na forma como a sociedade enxerga o amor e o casamento na maturidade.
“A maneira como as pessoas estão lidando com a velhice está mudando. Já não é tão incomum ver alguém se casando com 60, 70 anos, como já foi no passado”, destaca Márcio Minamiguchi, demógrafo do IBGE.
“Até pela questão de vida saudável, a expectativa de vida tende a aumentar. Dessa forma, já não é mais uma etapa em que a pessoa está esperando pelo fim da vida.”
Diferenças de gênero nos casamentos na 3ª idade
Os dados do IBGE mostram ainda que homens com mais de 60 anos se casam mais do que mulheres na mesma faixa etária.
Os números mais recentes revelam que 5,37% dos casamentos o homem tinha 60 anos ou mais, enquanto as mulheres tinham 60 anos ou mais em 2,55% dos casamentos.
Em ambos os casos, houve um aumento na proporção de casamentos na terceira idade, embora a diferença se mantenha ao longo do tempo.
Em 2011, por exemplo, os percentuais eram de 3,38% entre os homens e de 1,24% entre as mulheres.
Essa diferença de gênero, segundo Fancelli, pode ser atribuída a fatores culturais.
“Historicamente, os homens têm mais facilidade em reconstruir sua vida afetiva após a viuvez ou o divórcio, enquanto as mulheres tendem a se concentrar mais na vida familiar e social”, avalia a psicóloga.
Ela aponta que as mulheres mais velhas, especialmente acima dos 70 anos, muitas vezes optam por se engajar em atividades sociais e no convívio com filhos e netos, o que diminui a prioridade de um novo casamento.
Esse fenômeno também reflete uma diferença nas expectativas de gênero, segundo os especialistas.
Enquanto os homens podem ver o casamento como uma continuação de seu papel social, as mulheres, muitas vezes, valorizam mais a liberdade e a autonomia conquistadas ao longo da vida.
“Muitas mulheres nessa faixa etária já passaram grande parte da vida cuidando de outros e agora desejam dedicar mais tempo a si mesmas”, comenta Gomes.
“Para elas, o casamento pode não ser uma prioridade, mas uma escolha que precisa ser muito bem ponderada.”
Casamento homoafetivo como ato de ‘resistência’
Os dados sobre casamentos homoafetivos entre idosos também revelam uma tendência de crescimento na última década
No Brasil, os casamentos entre homens em que ao menos um deles tinha 60 anos passaram de 157 registros em 2013 para 295 em 2022, um aumento de quase 88%.
Já entre mulheres em que uma delas tinha 60 anos ou mais, o salto foi ainda maior, de 108 para 295 no mesmo período — ou seja, mais do que dobraram.
Segundo especialistas, a demora na oficialização de muitas dessas uniões pode ser atribuída ao fato de que muitos casais LGBTQIA+ viveram “escondidos” durante grande parte da vida, devido ao medo do preconceito
Esses casamentos são, portanto, um reflexo de uma maior aceitação social e da busca por direitos civis igualitários, segundo especialistas.
“Para muitos idosos LGBT+, o casamento é uma conquista que simboliza a superação de décadas de preconceito e invisibilidade”, comenta Fancelli.
“É uma forma de garantir proteção legal, mas também de afirmar publicamente uma relação que muitas vezes foi mantida em segredo por anos.”
A professora e revisora de texto Ana Maria de Mattos, de 75 anos, diz que seu casamento com sua companheira foi uma espécie de “ato de resistência”.
Ela conhecia Mónica Garcia, de 74 anos, já há 27, e as duas moravam juntas há 25, quando as duas decidiram casar de papel passado em 2019,.
Segundo ela, o país enfrentava uma “onda” homofóbica durante o início do governo de Jair Bolsonaro (PL), que era conhecido por falar abertamente contra os homossexuais.
Ana Maria diz que ela e Mónica temiam perder direitos ou ter outros problemas como um casal homoafetivo.
“Nosso casamento aconteceu por causa do antigo governo. Foi uma autoproteção. Digamos que era um casamento para desobediência civil”, relembra Ana Maria.
“A gente fez uma celebração enorme. Tinha umas 150 pessoas.”
Como já viviam juntas há quase três décadas, ela conta que a oficialização não mudou a relação, mas, sim, trouxe mais segurança a elas.
A professora conta que como as duas vinham de casamentos heterossexuais quando se conheceram e já tinham filhos. Sentiam assim que já haviam cumprido o “papel social exigido na sociedade”.
“Eu já falava minha esposa, minha companheira. As pessoas sempre nos respeitavam muito, principalmente no prédio em que moramos”, conta Ana Maria.
O fato de estar em seu segundo casamento e com mais idade, diz ela, permitiu que o casal administrasse melhor as expectativas, especialmente em relação ao futuro.
A professora também destaca que vivenciar uma relação homoafetiva hoje em dia apresenta muitas diferenças, principalmente na convivência.
“Uma coisa interessante é que, no casamento heterossexual, os papéis costumam ser mais definidos. A mulher fica geralmente sobrecarregada, cuidando da casa, dos filhos, levando-os para a escola. Enquanto o homem sai para trabalhar”, afirma Ana Maria.
“Apesar de eu ter trabalhos como freelancer, a maior dedicação era para a casa.”
Agora, no casamento com outra mulher, a dinâmica é completamente diferente.
“Somos duas donas de casa, então, as tarefas são divididas. Não há aquele peso de um dos lados ter que assumir tudo. Além disso, nossos filhos já estão crescidos e morando fora, o que facilita bastante.”
Com a maturidade, a forma de encarar a vida também muda, diz ela.
“A gente passa a dar mais valor ao que realmente importa e não perde tempo discutindo por coisas pequenas”, avalia Ana Maria.
“É uma fase em que podemos melhorar em muitos aspectos.”
Ana diz que o casamento foi um ato de resistência
Novos significados e saúde mental
A psicóloga Márcia Pin Fancelli, especializada em gerontologia pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), atribui parte do crescimento dos casamentos na terceira idade ao aumento da expectativa de vida.
Dados do IBGE mostram que os brasileiros viviam em média 65,3 anos em 1990. Uma década depois, em 2000, já era de 74,08 anos.
Em 2023, passou para 76,4 anos, e a expectativa é que chegue a 83,9 anos em 2070.
“O aumento da longevidade, aliado à possibilidade de vivê-la com saúde, abre várias portas para os indivíduos com mais de 60 anos, incluindo a oportunidade de reconstruir a vida afetiva por meio do casamento”, afirma Fancelli.
Essa nova realidade reflete ainda uma mudança na percepção dos idosos sobre seu próprio envelhecimento, avalia Fancelli.
Muitos passaram a enxergar essa fase como uma oportunidade para revisitar antigos sonhos ou até mesmo ter novas experiências.
“Há uma ressignificação do envelhecimento, que não é mais visto como uma etapa de declínio, mas como um momento de novas possibilidades, incluindo na esfera afetiva”, complementa a psicóloga.
O casamento, para aqueles que já passaram dos 60 anos, pode ainda ser um aliado poderoso na conservação da saúde mental, segundo os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
“Reconstruir laços afetivos e sexuais nessa fase da vida contribui significativamente para o bem-estar emocional”, diz Fancelli.
A psicóloga acrescenta que essa fase da vida é marcada por perdas, e estar em um relacionamento pode ajudar a elaborar o luto de forma mais equilibrada, diminuindo os riscos de depressão e ansiedade.
Além dos benefícios emocionais, há também impactos positivos na saúde física, explica Francisco Carlos Gomes, psicólogo e mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
“O apoio mútuo em um casamento pode ser um fator decisivo para uma vida mais saudável, com uma rotina mais equilibrada e hábitos que promovem o bem-estar”, diz Gomes.
Casamento como antídoto para solidão
Embora casar para evitar a solidão possa parecer uma solução simples, tanto Fancelli quanto Gomes alertam para a importância de encontrar um relacionamento que tenha valor.
“Casar apenas para não ficar sozinho não é a melhor escolha”, ressalta Gomes.
“Quando se encontra uma relação significativa, com objetivos comuns, a união pode se tornar uma fonte de renovação.”
Fancelli acrescenta que, para muitos idosos, o casamento é uma forma de redescobrir o prazer na vida cotidiana, compartilhando vivências e desafios.
Mas ela ressalta que o casamento pode, sim, ser um antídoto para a solidão, desde que seja baseado em um vínculo emocional genuíno e mútuo.
“A solidão é uma questão séria na terceira idade, mas deve ser combatida com relacionamentos que realmente façam sentido, que tragam alegria e satisfação, não apenas como uma tentativa de preencher um vazio.”
A possibilidade de construir uma nova história afetiva após os 60 anos pode trazer inúmeros benefícios.
Isso inclui até mesmo pessoas que já foram casadas e decidem retomar o relacionamento anos depois.
“Nada impede que uma relação positiva seja reconstruída, desde que ambos estejam dispostos a aprender com o passado e a definir novas metas juntos”, diz Marcella Bianca, neuropiscóloga e colaboradora do ambulatório de envelhecimento da Unifesp.
Bianca enfatiza que, além da busca por felicidade, há uma crescente valorização do que é essencial em uma relação na terceira idade: o apoio mútuo, o respeito à individualidade e a disposição para compartilhar a vida.
“Os casais dessa faixa etária costumam ser mais tolerantes e compreensivos, porque já enfrentaram muitos desafios ao longo da vida. Isso cria um ambiente mais propício para um relacionamento saudável e duradouro”, finaliza.
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Cortesia com chapéu alheio
Posted by: redacao | Posted on: setembro 9, 2024ANDRÉ GUSTAVO STUMPF — Jornalista
Especialistas, agências e institutos que se dedicam a fazer projeções sobre o desenvolvimento da economia brasileira continuam a errar muito. De novo, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os números do desempenho da economia nacional, os técnicos descobriram perplexos que o Brasil tinha sido o segundo maior país em crescimento de seu Produto Interno Bruto, perdeu apenas para o Peru, e empatou como potências do quilate de Arábia Saudita e Noruega. Os técnicos que fazem as profecias ficaram perplexos e não tiveram a humildade de vir a público e tentar explicar o que aconteceu. Este número resulta em crescimento anual próximo a 3%. As projeções eram inferiores a 2%. Um vexame.
É a maior alta desde o quarto trimestre de 2020, quando a economia cresceu 3,7%, mas ainda em meio à recuperação, imediatamente após tombar por causa do início da pandemia da covid-19. O Brasil ficou na vice-liderança em ranking de PIB de 53 países. Os chamados especialistas previam avanço de 0,9% ante o primeiro trimestre, segundo a opinião média de 80 instituições de mercado consultadas. Tudo errado.
A indústria teve expansão de 1,8%. A construção civil avançou 3,5%, e a indústria de transformação teve alta de 1,8%. Houve queda de 4,4% nas indústrias extrativas, que reúnem atividades como mineração e extração de petróleo. A agropecuária, que puxou o PIB no ano passado, foi o único entre os grandes setores que recuou: queda de 2,3% no segundo trimestre. A seca que afeta plantações em vários estados no país foi uma das responsáveis pelo desempenho fraco, assim como as chuvas no Rio Grande do Sul.
A verdade é que, desde 2020, as previsões de crescimento da economia têm subestimado a variação que viria a ocorrer de fato no PIB. A previsão de alta de 0,36% do PIB em 2022; o crescimento foi de 3%. Para 2023, previsão de 0,8%, alta de 2,9%. Para 2024, previsão de 1,5%, mas o PIB deve crescer mais de 2,5%. Difícil é saber se o erro de previsão está relacionado a erros de diagnóstico sobre o funcionamento da economia e do efeito de políticas econômicas. Parece, à primeira vista, assunto político.
No governo Lula 2 comecei a prestar atenção nos prognósticos dos chamados especialistas porque o ministro de Comunicação do governo, Franklin Martins, costumava me alertar para os erros das previsões dos analistas financeiros. Eles fazem as previsões e vão corrigindo ao longo do ano de maneira que em dezembro suas profecias coincidam com os números oficiais. Mas nos últimos tempos eles têm errado muito mais, e de maneira mais ostensiva. É preciso desconfiar sempre.
Um amigo que trabalhou no Fundo Monetário Internacional costumava também reclamar das agências de classificação de risco. Na grande crise dos Estados Unidos, em 2008, elas erraram tudo, do começo ao fim. Não conseguiram se antecipar ao enorme problema dos recebíveis derivados de empréstimos habitacionais. A crítica originária do FMI é a de que o Fundo negocia com os governos, realiza mudanças na operação financeira dos países e, no meio dos entendimentos, as agências definem que o crédito de determinado país melhorou ou piorou. Atrapalha muito e normalmente não tem base sólida. O Brasil, por exemplo, não pode ter classificação inferior à de alguns de seus vizinhos. No entanto, é assim.
Essas confusões e erros apenas demonstram que economia não é ciência exata. Seu resultado, depois de um ano de trabalho, depende de uma série de variáveis que vão desde seca ou chuva, vontade de empreender, facilidade de investir, problemas com o governo de esquerda, dificuldades no diálogo com deputados e senadores, problemas pessoais que influenciam na política, tudo isso resulta em um número. É muito difícil acertar com exatidão o resultado. Tanto aqui quanto no exterior, as previsões na área da economia são resultam da vontade política. Não há isenção, nem nos cálculos dos chamados especialistas. Eles também têm preferências e, não esquecer, negócios.
A discussão, neste final de ano, está em torno da redução das taxas de desemprego no país. O número é ótimo dentro das possibilidades nacionais, algo perto de 6,8%, (já foi mais de dez por cento ao tempo da presidente Dilma Rousseff). Menor desemprego sugere maior pressão sobre preços, ou seja, inflação, porque os salários tendem a subir uma vez que pode haver escassez de mão de obra em setores fundamentais. Há o outro lado desta situação, virá, ou viria, pelo lado do aumento das taxas de juros. O governo, discretamente, mandou projeto aumentando impostos. A voracidade fiscal é insaciável. Está na hora de o presidente Lula começar a cortar suas imensas despesas. Ele está fazendo cortesia eleitoral, pensando em 2026, com o chapéu dos contribuintes.
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Censo: casas são 75% dos imóveis vagos no Brasil; apartamentos, 18%
Posted by: redacao | Posted on: setembro 6, 2024O IBGE divulgou nesta sexta-feira (6) detalhes sobre os domicílios vagos e de uso ocasional, como aqueles usados para veraneio.
As casas são mais de 70% dos imóveis nos dois casos. Apartamentos, pouco menos de 20%.
Em 55 cidades do país, entretanto, os imóveis de uso ocasional são em sua maioria apartamentos. Isso acontece em Balneário Camboriú (SC) e Santos (SP), por exemplo.
Dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (6) mostram que 75% dos 11,4 milhões de imóveis vagos no Brasil são casas.
Apartamentos representam 18%, casas de vila ou de condomínio somam 3%, e estruturas residenciais permanentemente degradadas ou inacabadas correspondem a 3%.
São considerados imóveis vagos aqueles que, na data de coleta do Censo, estavam completamente desocupados, mesmo que após a visita do recenseador tenha sido ocupado.
Apartamentos são maioria de imóveis de uso ocasional em 55 cidades
Os dados do Censo também mostram que casas são a maioria dos domicílios de uso ocasional, como casas de veraneio e imóveis para locação de curta temporada: 78%, ante 17% de apartamentos.
Em apenas 55 municípios, os apartamentos são a maioria dos imóveis de uso ocasional.
Em Balneário Camboriú (SC), por exemplo, 94,4% dos imóveis de uso ocasional são apartamentos. A cidade é conhecida pela verticalização e tem oito dos 10 arranha-céus residenciais mais altos do país.
Santos (SP) também aparece no ranking. Ao todo, 94,1% dos imóveis vagos na cidade da Baixada Santista são apartamentos. A cidade é conhecida pelos prédios inclinados localizados na orla. Um levantamento recente mostrou serem 319 edifícios nessas condições.
Outras cidades litorâneas nestas condições são: Itapema (SC), com 90,5%, São Vicente (SP), com 87,1%, Guarujá (SP), com 80,3%, Praia Grande (SP), com 78,0%, João Pessoa (PB), com 72,0%, e Vitória (ES), onde 71,0% dos imóveis de uso ocasional são apartamentos.
Sem medo de celebrar o PIB
Posted by: redacao | Posted on: setembro 5, 2024Os dados de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de 1,4% em relação ao trimestre anterior e 2,5% em 12 meses, trouxeram uma onda de otimismo aos agentes econômicos, ao governo e é uma boa notícia para o cidadão. O Brasil foi o segundo país com maior crescimento no trimestre terminado em julho, junto com Arábia Saudita e Noruega; abaixo do Peru e acima dos Estados Unidos e grandes países da Europa.
O PIB é a soma dos valores produzidos, por um período, nos vários setores da economia, incluindo bens e serviços. Ele serve como um termômetro para medir a saúde econômica do país. Quando o PIB vai bem, isso reflete na população, porque significa que a “economia real” está funcionando: empresas produzem, lucram, consequentemente geram emprego e renda — dinheiro que vai, novamente, ser despejado na economia, criando um círculo virtuoso.
Há, no entanto, a preocupação com o chamado produto potencial, ou seja, esse crescimento precisa ser provocado não apenas pelo lado da demanda, com o estímulo ao consumo, como o governo tem feito com políticas como a valorização do salário mínimo, incentivo ao crédito e renda mínima (Bolsa Família). É necessário que o setor produtivo responda aos incentivos, ampliando sua produção, comprando máquinas e equipamentos, aumentando a oferta. Caso contrário, todo esse otimismo vai embora, corroído pela inflação.
Analistas de mercado já apostam que, por causa dessa preocupação com a pressão inflacionária, o Banco Central (BC) vai aumentar a taxa básica de juros em sua próxima reunião, neste mês. A principal missão do Banco Central é essa, de manter a inflação sob controle, perseguindo a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Por isso, a aposta seria de elevação dos atuais 10,5% para até 11,75% ao ano até dezembro. Essa não é uma unanimidade no mercado financeiro. Há quem tenha uma posição mais cautelosa em relação à avaliação que o Comitê de Política Monetária (Copom), responsável por calibrar a taxa Selic, fará sobre a qualidade do crescimento econômico. É o caso do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney.
“Esse ambiente de crescimento econômico robusto, naturalmente, exerce certa pressão inflacionária. Porém, o BC, ao fazer a sua avaliação técnica, não observa apenas os dados correntes da inflação, mas também o horizonte relevante para a política monetária. Portanto, o Copom saberá melhor fazer sua análise, pois o olhar do BC não é imediatista e, sim, mais amplo e de toda a dinâmica da inflação no tempo”, disse Sidney, ontem, a esta jornalista.
Ex-funcionário do BCl Sidney chegou a integrar o Copom, quando foi diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania na gestão de Ilan Goldfajn. Ele conhece bem a engrenagem do Copom. Sabe, inclusive, que desde a edição da Lei 179, a missão do BC não está relacionada apenas à política monetária, mas também ao crescimento econômico e geração de emprego.
Os dados divulgados na terça-feira pelo IBGE mostram que não apenas o estímulo ao consumo provocou a alta do PIB. A taxa de investimento em 16,8% e a elevação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) — compra de máquinas e equipamentos — em 2,1% indicam que a oferta de produtos tende a aumentar, minimizando a pressão inflacionária.
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O que explica o crescimento de 1,4% no PIB brasileiro?
Posted by: redacao | Posted on: setembro 4, 2024O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre divulgado, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) surpreendeu positivamente, desencadeando uma série de revisões para cima do crescimento econômico de 2024, que passaram a prever taxas perto de 3%.
Conforme os dados do IBGE, o principal indicador de atividade econômica do país avançou 1,4% na margem (em relação aos três primeiros meses anteriores), após a alta revisada de 1% de janeiro a março (antes, era de 0,8%), acumulando R$ 2,9 trilhões. O resultado superou a mediana das previsões dos analistas do mercado, de 0,9%, e a projeção do Ministério da Fazenda, de 1,1%. Na comparação com o mesmo período de 2023, o crescimento foi maior, de 3,3%, e, no acumulado em 12 meses até junho, a variação foi de 2,5%.
A taxa de crescimento do PIB brasileiro ficou em segundo lugar no ranking de 58 países elaborado pela Austin Rating, ao lado de Arábia Saudita e Noruega, que também registraram avanço de 1,4% no segundo trimestre em relação ao anterior.
A lista da Austin é liderada pelo Peru, cujo PIB avançou 2,4% na mesma base de comparação. O PIB dos Estados Unidos, embolado com vários países em 7º lugar, teve alta de 0,7%. O avanço da atividade brasileira também ficou acima da média geral do ranking, de 0,4%, e da média dos países do Brics (grupo das economias emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Os dados do IBGE foram comemorados pelo governo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizou que a pasta vai revisar a projeção do PIB deste ano dos atuais 2,5% para mais de 2,8%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também sinalizou viés de alta para a projeção atual da entidade para o PIB deste ano, de 2,4%. “A CNI considera que a composição do crescimento do PIB no período tem características mais saudáveis em relação ao que foi visto no ano passado, pois o resultado é menos baseado na demanda externa e mais no avanço dos investimentos”, informou a nota da entidade.
Analistas ouvidos pelo Correio reconheceram que o resultado do PIB brasileiro superou as expectativas mais otimistas, mas demonstraram preocupação com o fato de que um dos principais motivos desse desempenho mais forte na atividade foram os gastos do governo.
De acordo com os dados do IBGE, o crescimento do PIB de 1,4%, foi impulsionado, pelo lado da oferta, pela indústria com avanço de 1,8% — impulsionada pelos segmentos de energia e de construção, que cresceram 4,2% e 3,5%, respectivamente — e pelos serviços, que registraram alta de 1% e é o setor que mais emprega, com um peso em torno de 70% no indicador da atividade. E, ao contrário do ano passado, quando bateu recordes de produção e alavancou o PIB, a agropecuária contribuiu negativamente no trimestre, com queda de 2,9%.
Do lado da demanda, além dos gastos do governo que cresceram 1,3% na margem, o consumo das famílias apresentou a mesma variação, em grande parte, devido ao aumento da massa salarial, impulsionada pelo retorno do aumento real do salário mínimo, e dos benefícios pagos pelo governo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) avançou 2,1% no segundo trimestre em relação ao ano anterior. As exportações registraram expansão de 1,3% e as importações dispararam 7,6% na mesma base de comparação.
Silvia Matos, do FGV Ibre, ressaltou que a demanda interna cresceu acima da média do PIB no semestre, de 2,9%, pois o consumo das famílias acumulou alta de 4,6% — refletindo o aumento da renda e a melhora no mercado de trabalho —, e isso também gera pressão inflacionária. Segundo ela, não é só o PIB mais forte que está pressionando a inflação. Neste mês, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mudou a bandeira tarifária para vermelha nível 2.
“A energia mais cara agora deve ter um repasse sobre serviços e outros preços, pressionando mais ainda a inflação, que vai resultar em juros mais altos. Não tem almoço grátis na economia”, resumiu ela, em referência ao fato de que o forte aumento dos gastos do governo, agora, mostra a fatura para a população.
Matos lembrou que outra medida que contribuiu para alavancar o consumo das famílias foi a antecipação do 13º salário dos aposentados, que injetou R$ 67 bilhões na economia entre abril e maio, recordou a economista do Ibre.
“Esse adiantamento ajudou a melhorar o consumo das famílias, mas vai comprometer os gastos dos aposentados e pensionistas no fim do ano”, alertou a economista do Ibre. Ela contou que, diante dos dados mais fortes do PIB, elevou de 2,3% para 2,7% a previsão do PIB deste ano e lembrou que, na segunda metade do ano, a tendência para a atividade econômica é de desaceleração. “O comportamento do PIB no terceiro e no quarto trimestres deve lembrar o que aconteceu no ano passado, quando o segundo semestre foi mais fraco e até negativo, mas, depois, acabou sendo revisado para cima. Logo, podemos ver um PIB próximo de zero entre julho e setembro”, disse. Pelas projeções ainda do Boletim Macro do Ibre, o PIB deve recuar 0,2% no terceiro trimestre.
O setor produtivo demonstrou otimismo com os resultados do PIB. Em nota à imprensa, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, ressaltou que o avanço do PIB acima das expectativas confirmou o “bom dinamismo dos dados correntes da economia”, e, além do forte crescimento do consumo, o avanço de 2,1% na taxa de investimentos de longo prazo no país, que subiu de 16,4% do PIB para 16,8% do PIB, “indica a necessidade de perseverarmos no caminho das reformas econômicas para seguir impulsionando os investimentos ao longo dos próximos trimestres e anos”. Pelas estimativas dele, “existem condições de atingirmos crescimento na faixa de 3% em 2024, mesmo com alguma acomodação na expansão ao longo do segundo semestre”. “O desempenho aponta que as condições para o crescimento da economia estão dadas e, se avançarmos com novas sinalizações positivas no campo fiscal, provavelmente teremos novas surpresas positivas nos próximos trimestres”, acrescentou.
Na avaliação dos especialistas, os dados mais fortes do PIB mostram que a economia está aquecida e, portanto, aumentam as pressões inflacionárias — um dos principais riscos monitorados pelo Banco Central. Com isso, o consenso entre os analistas é de que o BC começará a aumentar os juros ainda neste mês.
As apostas são de uma alta de, pelo menos, 0,25 ponto percentual, mas algumas projeções indicam um aumento maior e alertam que o ciclo poderá se estender por, pelo menos, quatro reuniões, com impacto de até 200 pontos-base na Selic, ou seja, a taxa, atualmente em 10,50% ao ano, poderá chegar a 12,50% no fim do aperto monetário. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ocorre nos dias 17 e 18 e especialistas também estão revisando a projeção da taxa básica para dezembro deste ano, com estimativas variando entre 11,50% e 11,75%, que poderão estar no próximo boletim Focus, do Banco Central.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, por exemplo, já vinha prevendo alta de 0,25 ponto percentual na taxa Selic a partir do próximo Copom, desde a última reunião, de julho, quando o colegiado deixou a porta aberta para o aumento dos juros em meio à expansão fiscal do governo, que segue em ritmo acentuado. “O PIB do segundo trimestre veio bem melhor do que o esperado, e, agora, mesmo se o país não crescer nos dois próximos trimestre, o carregamento estatístico do primeiro semestre vai para 2,5%”, explicou Padovani. Ele contou que está revisando a previsão de crescimento do PIB deste ano para 2,8%, mas tem a impressão de que o “voo de cruzeiro” da economia brasileira está próximo de 3%. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating prevê alta de 0,25 ponto porcentual na taxa básica, “moderando a curva”. “Se o Copom começar elevando os juros com 0,50 ponto percentual, ele poderá sinalizar que a situação é mais grave do que parece. A dúvida, então, será como os membros do comitê devem analisar esse cenário”, destacou Agostini. Para o economista, há fatores suficientes para a alta de juros chegar a 11,75% no fim deste ano, porque “o fiscal não está ajudando” e os diretores do BC serão obrigados a voltar a aumentar a taxa de juros.
Sergio Vale, economista-chefe da MB associados, tinha uma das projeções mais otimistas do mercado para o PIB do segundo trimestre, de 1,2%, e já revisou de 2,4% para 2,8% a estimativa de avanço do PIB de 2024. Ele também reconheceu que, com a bandeira vermelha afetando a conta de luz, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — indicador da inflação oficial — vai encerrar o ano em 4,5% no teto da meta, considerando que a bandeira permaneça nesse patamar até dezembro.
“Se adicionarmos a pressão de demanda que vem acelerando, o BC não terá alternativa a não ser subir os juros em setembro. A chance maior era de 0,25, mas a possibilidade de alta de 0,5 aumentou e deve se consolidar”, alertou Vale, que elevou para 11,50% a previsão para a taxa Selic no fim deste ano.
A economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também reconheceu que os dados do PIB são positivos, mas lembrou que é preciso cautela na comemoração. Ela não tem dúvidas de que o Copom deverá aumentar os juros na próxima reunião porque os riscos de preocupação para isso na reunião anterior foram todos confirmados e o PIB mais forte completou a lista e, por conta disso, estima um aperto monetário de até dois pontos percentuais na taxa Selic daqui para frente.
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Energia fica mais cara a partir deste mês e vai pressionar a inflação
Posted by: redacao | Posted on: setembro 2, 2024O retorno, neste mês, da bandeira vermelha 2 na conta de luz pela primeira vez desde 2021, vai ter impacto na inflação não apenas em setembro. Além disso, as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) devem seguir sendo revisadas para cima nos próximos boletins semanais do Banco Central.
A mudança foi anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na noite da última sexta-feira, após o fechamento dos mercados e, provavelmente, da coleta de dados pelo BC para o boletim Focus desta semana. No relatório anterior, a mediana das projeções dos economistas para o IPCA deste ano estava em 4,25%, pelo 6º reajuste semanal seguido. E, para setembro, a mediana das estimativas de avanço do indicador da inflação oficial era de 0,27%.
Pelos cálculos do economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), o impacto da bandeira vermelha na tarifa de energia elétrica pode variar de 0,32 a 0,50 ponto percentual no IPCA de setembro, dependendo das projeções anteriores para o indicador. “Isso ocorre, porque, a energia elétrica é o segundo mais importante componente do IPCA, com peso de 4,4083% (o primeiro é a gasolina com peso de 5,1496%). Além disso, o aumento nos custos de energia pode pressionar outros preços na economia, como os de bens e de serviços que dependem de eletricidade”, disse.
O professor lembrou que esse o aumento no custo da energia elétrica das empresas acaba sendo repassado aos consumidores, pois haverá acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowats-hora (kWh) consumidos. E o impacto pode ser particularmente forte em períodos em que a bandeira vermelha 2 permanecer acionada por vários meses consecutivos, pressionando o IPCA para cima de forma persistente. “O impacto da bandeira vermelha pode variar dependendo da região e da classe de consumo. Onde as famílias têm uma maior proporção da renda dedicada aos serviços básicos, como energia, haverá impacto mais forte no custo de vida”, alertou Nogami.
Professor do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (Ieri-UFU), Benito Salomão avaliou que ainda é prematuro dizer se a inflação pode se espalhar para outros setores da economia. “Agora, a bandeira vermelha de patamar dois é um impulso inflacionário em um momento em que a inflação vem performando, no acumulado dos 12 meses, próximo do teto da meta. Então preocupa, não dá pra descuidar dessas questões”, disse.
Em julho, o IPCA acumulado em 12 meses ficou em 4,50%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mesmo percentual do teto da meta deste ano.
A ausência de chuvas afeta diretamente os níveis dos reservatórios que abastecem as hidrelétricas, principais fontes de geração de energia no Brasil é um dos principais motivos para que a Aneel mudasse a bandeira tarifária a partir deste mês. Com os níveis dos reservatórios em queda, o sistema elétrico nacional é obrigado a acionar as usinas termelétricas, que têm um custo de operação mais elevado e poluem mais também. Com isso, o custo da energia fica mais caro, tanto para empresas quanto para consumidores.
A estiagem se estende por todo o Centro-Oeste e o Sudeste, regiões que têm enfrentado uma escassez hídrica acentuada, além de queimadas constantes que estão sendo investigadas pelas autoridades — que já prenderam pelo menos 11 suspeitos de agir intencionalmente em São Paulo.
O Distrito Federal, por exemplo, enfrenta um dos períodos de seca mais prolongados da história, com mais de 130 dias sem chuvas significativas e cada vez mais perto do recorde de 1973, de 163 dias de seca.
Segundo o doutorando em Ciências Ambientais pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em meio ambiente Charles Dayler, quando se olha para esse cenário, observa-se que diversos reservatórios de produção de energia vão estar com níveis baixos. “O governo é obrigado a acionar térmicas, para suprir a necessidade, porque não pode deixar o reservatório secar. Então, ele acaba tendo que fazer um controle do nível da água. Com isso, as térmicas vão entrar, e, como o preço do combustível é mais caro, o custo aumenta. Não temos previsão de chuva, porque ela só deve chegar lá para a segunda quinzena de outubro ou de novembro. Dessa forma, ainda tem um período longo de estiagem pela frente, e vamos precisar poupar a água dos reservatórios”, explicou.
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Por que mortes por calor podem triplicar e ameaçam mais a longevidade do que frio intenso
Posted by: redacao | Posted on: agosto 30, 2024Qual a relação entre o envelhecimento da população e as mudanças climáticas, os dois fenômenos humanos e ambientais mais impactantes do século 21 até aqui?
Nos últimos dias, uma grande parte do Brasil sofreu com um frio acentuado, e as mortes de pessoas em situação de rua por hipotermia causam indignação e desassossego. Sempre que ocorrem essas ondas de frio acentuado, é comum ouvir manifestações de pessoas descrentes no aquecimento global. É fácil cruzar com alguém questionando: “Não dizem que o planeta está esquentando? Cadê?”.
A onda de frio, no fim de agosto, chegou ao mesmo tempo em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados sobre o envelhecimento da população a partir das projeções do Censo 2022.
A população brasileira está envelhecendo porque a taxa de fecundidade alcançou um nível europeu, isto é, 1,5 filho por mulher (contra 6,3 na década de 1960, e 2,32 no ano 2000). E a expectativa de vida média cresceu para 76,4 anos (contra 71,1 no ano 2000).
Como a demografia está longe de se estabelecer como um determinismo e embora o avanço da Medicina seja infinito e possa proporcionar uma vida cada vez mais longa, sempre fica a pergunta sobre o que pode ameaçar a longevidade humana.
Será que essa longevidade pode se constituir promissora diante da mudança climática? Afinal, o risco maior é uma morte por frio extremo e suas consequências, ou pelo calor exacerbado?
Efeitos diretos do calor sobre a longevidade
Um estudo de modelagem feito pela equipe de pesquisadores do Centro de Pesquisa da Comissão Europeia, liderada por David García-Léon, e recém publicado no journal The Lancet Public Health, analisou as consequências da mudança climática para a longevidade em 1.368 regiões de 30 países europeus. Foram observadas as características epidemiológicas e socioeconômicas.
A pesquisa usou dados de 854 cidades europeias e é a primeira a estimar mortes atuais e futuras por temperaturas altas e baixas neste nível de detalhe regional para todo o continente.
As mortes por calor podem triplicar na Europa até 2100, concluem os autores e autoras.
O trabalho sugere que as disparidades regionais existentes no risco de morte por temperaturas altas e baixas entre adultos aumentarão no futuro devido às mudanças climáticas e ao envelhecimento da população.
As mortes por calor aumentarão em todas as partes da Europa, mais significativamente nas regiões do sul. As áreas mais afetadas incluirão Espanha, Itália, Grécia e partes da França.
No geral, com um aquecimento global de 3°C – uma estimativa superior com base nas políticas climáticas atuais – o número de mortes relacionadas ao calor na Europa pode aumentar de 43.729 para 128.809 até o final do século.
No mesmo cenário, as mortes atribuídas ao frio – atualmente muito maiores do que ao calor – permaneceriam altas, com uma ligeira diminuição de 363.809 para 333.703 até 2100.
Estimativas de mortes atuais e futuras relacionadas à temperatura foram produzidas para quatro níveis de aquecimento global (1,5 °C, 2 °C, 3 °C e 4 °C) usando uma combinação de 11 modelos climáticos diferentes.
No calor ou no frio, mais pobres e mais velhos são mais afetados
Sempre de acordo com o estudo, atualmente cerca de oito vezes mais pessoas morrem de frio na Europa do que de calor, mas a previsão é que essa proporção diminua bastante até o final do século.
Os autores dizem que as descobertas podem orientar o desenvolvimento de políticas para proteger as áreas e pessoas mais vulnerabilizadas dos efeitos das temperaturas quentes e frias.
Como sabemos, os efeitos climáticos extremos têm atingido principalmente os mais pobres e, em relação ao recorte de idade, os mais velhos.
A maioria das mortes por calor ou frio intensos, de acordo com a pesquisa, ocorrerá entre pessoas com mais de 85 anos.
As pessoas mais idosas (com 80 anos ou mais), sobretudo com dificuldade de mobilidade ou vulnerabilizadas financeiramente, têm maior dificuldade de buscar proteção ou fuga de inundações, furacões, frio ou calor.
A questão da análise por idade, no entanto, é uma das limitações da pesquisa apontada pelos autores e autoras porque foi impossível analisar os bebês – assim como estabelecer recortes de gênero e etnia. Outra limitação é que o estudo foi feito apenas na área urbana, onde ocorre mais estresse de temperaturas.
Mesmo assim, o trabalho, pela sua abrangência, oferece evidências potentes para outros países, talvez para todo o planeta. Os estudos buscando a intersecção entre envelhecimento da população e mudanças climáticas têm se constituído em um campo profícuo de estudo.
No Brasil, por ser um país continental, essa linha de pesquisa é urgente. Em meu livro Viver muito (ed. Leya, 2010), alertei para o risco de se repetir no Brasil as consequências da “canicule” francesa de 2003, quando pessoas idosas foram encontradas mortas, já em estado de decomposição, sozinhas em suas casas por falta de um serviço de cuidado em domicílio.
Efeitos climáticos extremos têm atingido principalmente os mais pobres e os mais velhos
Impactos do clima extremo no Brasil
O Brasil tem um agravante para as ondas de frio ou calor: o grande número de casas de autoconstrução ou mesmo a ausência de adaptação de residências para os extremos climáticos.
Pesquisas apontam que 85% da população brasileira que já construiu ou reformou o fez por conta própria, sem o apoio de arquitetos ou engenheiros. Salvar vidas dos picos de calor e frio dependerá muito mais do que simples ventiladores ou cobertores cobrados a crédito. As favelas são ricas em materiais inadequados, como telhas de zinco, que aquecem ainda mais o espaço interior.
Há mais de uma década, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alertaram para as consequências da transição demográfica e da transição climática.
José Féres defendeu, em capítulo de livro publicado em 2014, que na discussão sobre a degradação climática o tamanho da população pesa menos do que a estrutura etária, a composição familiar e seus arranjos e o processo de urbanização, pois esses componentes afetam o padrão de consumo (sobretudo de energia) e as condições de prevenção aos eventos extremos.
Sobre as mudanças de padrão de consumo de uma população superenvelhecida e seus efeitos no meio ambiente, no mesmo livro Camilo de Moraes Bassi, também do Ipea, analisa o efeito das mudanças na estrutura etária brasileira na capacidade de sustentabilidade a partir das metodologias da pegada ecológica e da pegada hídrica.
Bassi concluiu que o envelhecimento populacional pode significar uma “poupança ecológica” devido ao padrão de consumo de alimentação dos idosos ser menos intensivo em bens naturais (terra e água).
Como podemos perceber, o envelhecimento populacional é também fonte de geração de oportunidades e riqueza. No entanto, uma sociedade só estará apta a garantir o bem-estar na velhice com políticas de prevenção que se tornam ainda mais complexas com a intersecção com as mudanças climáticas e exigem uma Política Nacional de Cuidado compatível ao contexto ambiental e epidemiológico, principalmente sob os efeitos prolongados da covid-19 e ameaças de novas pandemias.
No Brasil, é sempre bom repetir, a necessidade se faz maior devido às desigualdades sociais abissais. Todas essas pesquisas apontam apenas para a necessidade de novas investigações nessa área da demografia ecológica. Só assim poderemos evitar mortes e garantir a promessa da longevidade humana.
*Jorge Felix é presidente do Conselho Administrativo do The Conversation Brasil e Professor de Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP).
Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.
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