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Moda evangélica ganha espaço no varejo com aposta no ‘recato com estilo’

Posted by: | Posted on: agosto 12, 2024

Quem navega por marketplaces como a Shopee ou até mesmo por redes sociais como o Instagram talvez já tenha se deparado com a categoria “moda evangélica”.

O novo conceito vem conquistando adeptos de religiões cristãs protestantes, que querem se vestir de acordo com seus valores — entre eles o recato em relação ao corpo — mas sem deixar de ter estilo. E rapidamente também atraiu pequenos empreendedores que viram no filão uma boa oportunidade de negócio.

Um desses empreendimentos é a Sali, que se define como uma loja de moda fitness e praia evangélica. A empresa foi criada como uma loja on-line em 2019 em Caruaru (PE) por Oseias Santana.

Ele conta que a ideia veio de sua esposa depois de ela sair para comprar roupas de academia com uma amiga. Elas não encontraram itens para a prática de esportes que fossem mais discretos e adequados ao seu estilo de vida. Precisavam de algo que não deixasse o corpo muito exposto, mas com flexibilidade para os exercícios.

— Ela pensou que poderíamos fazer produtos sob encomenda e foi quando surgiu a ideia. Se era uma necessidade das duas, por que não expandir para todo mundo e começar a fabricar? Aí começamos a moda fitness evangélica. E a moda praia surgiu depois, com a mesma proposta, que é fazer uma adequação para a mulher se vestir bem, com tecidos corretos para usar na praia e na academia, mas também com o corpo mais coberto — diz o empresário.

Ele rejeita moralismos e estereótipos. Ressalta que seus produtos não agradam só às evangélicas, mas também idosas e mulheres de outras crenças que não se sentem confortáveis com vestuário que deixa o corpo à mostra. Ele também vê uma demanda entre profissionais que julgam necessitar de mais sobriedade mesmo nas horas de lazer, como advogadas, bancárias, contadoras.

— A moda evangélica, para mim, é algo que não vai ferir os seus valores. É para quem quer estar alinhado com a sua fé. Existem pessoas, e até muitos evangélicos, que gostam de mostrar o corpo, e tudo bem, mas já tem muita gente atendendo esse público. Nossa ideia era a inclusão. Se você não quer expor seu corpo, tem a opção de ter roupas que se adéquem à você — ele diz.

Hoje a Sali tem uma loja física em Caruaru para o varejo, mas já vende o que fabrica por atacado pela internet para revendedores em várias regiões do país. A marca foi crescendo ao longo dos anos e investiu no marketing de influência por meio de parcerias com cantoras evangélicas conhecidas no meio, com destaque para Amanda Wanessa. A estratégia ajudou a divulgar os produtos na comunidade evangélica, onde o boca-a-boca é intenso.

De acordo com Oseias, o faturamento anual da empresa já chega a R$ 500 mil:

— Nossa maior proposta é não representar o evangélico de uma forma caricata, mas sim fazer a mulher evangélica se sentir bonita — define o empreendedor.

Comunidade influente

É assim que se sente Carla Gabriela Santos, de 23 anos, uma das primeiras clientes da Sali. Ela conta que antes de começar a consumir marcas evangélicas ia para a academia com blusas largas e compridas sobre a calça legging, mas não se sentia estilosa. A mesma coisa acontecia na praia.

— Antes eu tinha muita dificuldade de usar roupas de praia porque, como sou alta, elas ficavam muito curtas ou eram muito reveladoras. Então ter uma marca com esse estilo que a gente gosta, com vários tipos de tecidos e modelos é muito importante. Com o short-saia, por exemplo, eu me sinto muito mais confortável indo para a academia. E comprando deles a gente fortalece a nossa comunidade, o que é muito valioso.

O short-saia é um dos itens mais populares das linhas evangélicas para quem gosta de malhar. É uma bermuda que disfarça as curvas com uma saia sobreposta, um acessório similar ao que se vê na chamada calça-saia, que elimina o constrangimento de algumas para usar uma legging bem marcada.

Entre outros produtos fitness para esse público da Sali estão bermudas mais soltinhas e compridas, que vão até o joelho, e batas e até blusas mais justas, mas nada de decote. Na linha praia, o hit do momento é um maiô em formato de vestido.

Se o Brasil já teve mais de 90% da população representada por católicos, hoje o segmento religioso que mais cresce é o evangélico. De acordo com dados do IBGE, esse grupo saltou de 15,4% da população em 2000 para 22,2% em 2010.

Os dados de religião do Censo de 2022 ainda não foram divulgados, mas, em 2020, uma pesquisa do Datafolha estimou em 31% a parcela de evangélicos nos país. Um levantamento feito pelo GLOBO em 2022 apontou que 21 templos evangélicos são abertos por dia no Brasil.

Os números não deixam dúvidas de que se trata de um mercado consumidor crescente e que tem as suas especificidades. Esse crescimento se reflete no comportamento dos consumidores nas plataformas de comércio eletrônico. Só na Shopee há mais de 170 vendedores brasileiros cadastrados com termos que se aplicam à moda evangélica, de acordo com informações do site de e-commerce.

Em um ano, a busca por termos como “calça e camiseta evangélica” cresceu mais de três vezes. Já a procura por “jeans evangélico” e “saia evangélica” dobrou. O próprio termo “moda evangélica” aumentou em duas vezes suas buscas no app da Shoppe, que tem cerca de 2,5 mil itens relacionados a esse tema. Entre os mais vendidos estão os produtos de moda fitness para esse público.

A influenciadora Sarah Assunção garimpa no comércio eletrônico as peças que exibe no Instagram, onde compartilha vídeos com dicas de moda evangélica. Com mais de 140 mil seguidores na rede social, ela chegou a tentar criar sua própria marca, mas acabou desistindo, e resolveu focar na criação de conteúdo, quando começou a crescer nas redes.

— Meu intuito maior é trazer coisas acessíveis para esse público, ensinar as mulheres a buscar tendências e modernidade em suas roupas. Não aquele uniforme de evangélica que a gente vê por aí — diz a influenciadora, que faz parcerias publicitárias com marcas focadas no público cristão.

Saia ‘midi’

Sarah é membro da Congregação Cristã, denominação em que as mulheres costumam usar saias e vestidos mais longos. Em um de seus vídeos com mais visualizações, a influenciadora falou sobre como a moda evangélica estava ganhando o mundo com a saia midi, modelo frequentemente usado pelos integrantes da igreja, mas que conquista até quem não é da mesma religião. Para ela, estimular criatividade entre os evangélicos é uma forma de modernização:

— A moda evangélica significa tudo para mim porque é o meu meio de me vestir. É um nicho forte dentro da moda feminina, que está crescendo cada vez mais. Acredito que ainda tem espaço para novas marcas, novos conceitos. A minha intenção é essa, trazer sempre novos conceitos dentro do estilo evangélico, principalmente com saias e vestidos.

Também foram as saias mais longas que estimularam Bruna Calcagno a empreender. Com dificuldades de encontrar modelos midi com valores acessíveis, Bruna resolveu transformar uma necessidade sua em oportunidade. Em 2018, abriu a loja on-line “Toda Cristã”, de moda feminina, que hoje tem quatro unidades físicas em cidades da Baixada Fluminense.

Ela conta que o negócio explodiu em 2020, com o crescimento do comércio eletrônico na pandemia, mas a queda nas vendas em 2021 a obrigou a rever a estratégia. Começou a fazer parcerias com influenciadores evangélicos e a participar de lives. O negócio voltou a prosperar e ela teve musculatura para investir nas lojas.

Bruna diz que geralmente recebe clientes com as mesmas questões que ela mesma já teve, como dificuldade de encontrar modelagens estilosas e ao mesmo tempo sóbrias, adequadas a diferentes tipos de corpo sem mostrar muito. E destaca que principalmente as mulheres altas têm dificuldades de encontrar peças com o comprimento adequado.

— Hoje a gente vende não só para cristãs, mas para pessoas que querem se vestir modestamente, prontas para entrar numa reunião, numa empresa. Não é só sobre religião — afirma a empresária.

— Para mim é sobre modéstia. É se vestir de maneira santa, porque a Bíblia fala que nosso corpo é templo do espírito. Não preciso exibir o corpo para mostrar que sou bonita e legal. Eu me visto para mostrar que sou uma empresária e uma mulher boa, e não é meu corpo que fala isso.





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